Para a sua estreia na direção de um longa-metragem, o ator Dustin Hoffman escolheu uma história, baseada na peça teatral de autoria de Ronald Harwood, que é um território seguro para ele, na medida em que o filme se passa numa espécie de “retiro dos artistas”, uma casa de repouso para musicistas, sopranos, cantores líricos e profissionais em geral especializados naquelas óperas monumentais e clássicas que arrebatam emoções e corações.
A casa de repouso está passando por sérias dificuldades financeiras, por isso mesmo o espetáculo que os residentes promovem todos os anos para angariar fundos para manter o local pode ser fundamental para o seu destino. Desta forma, a chegada de Jean Horton (Maggie Smith, indicada ao Globo de Ouro 2013 de Melhor Atriz num Filme de Comédia ou Musical), uma das cantoras líricas mais famosas da história da Inglaterra, à casa de repouso pode ser, ao mesmo tempo, a salvação ou o fracasso do espetáculo anual e, consequentemente, do local.
O título “O Quarteto” faz justamente referência à reunião dos quatro maiores cantores líricos que a Inglaterra já viu – além de Jean Horton, temos: seu ex-marido, Reginald Paget (Tom Courtenay), Wilf Bond (Billy Connolly) e Cissy Robson (Pauline Collins) – e à possibilidade deles se apresentarem juntos novamente no espetáculo anual promovido pela casa de repouso. Entretanto, o roteiro de Ronald Harwood se dedica a abordar o quarteto tentando aparar as arestas de um relacionamento delicado e que, apesar de todos os contras – especialmente os do tempo -, ainda tem a chance de ser consertado.
Um dos elementos mais interessantes de “O Quarteto” é conseguir captar, por meio do retrato da rotina da vida na casa de repouso que, apesar desses musicistas, sopranos e cantores líricos estarem longe dos holofotes, num momento de vida delicado, quase no apagar das luzes; todos eles mantêm – com o perdão do trocadilho – acesas dentro de si aquelas características peculiares dos artistas, notadamente o ego inflado. Tentar dominar o ego e o orgulho é muito complicado e esse é um dos pontos principais para a resolução do relacionamento principal que vemos em tela.
“O Quarteto” também chama a atenção por passar uma genuinidade muito grande para a plateia. Talvez, isso esteja justificado pelo fato de que boa parte do elenco é mesmo formada por musicistas aposentados e que conhecem bem a história que está sendo retratada em tela. Por falar no elenco, o quarteto principal é formado por quatro dos mais finos atores que a Inglaterra possui e é muito bom ver um grupo talentoso como esse se divertindo, realmente, em tela e encontrando ainda alegria no ofício em que eles escolheram. E isso, com certeza, deve ser um reflexo da personalidade e do estilo de Dustin Hoffman como diretor.