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    Grandes Amigos
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Grandes Amigos

    Comédia ressentida

    por Bruno Carmelo

    O início deste filme apresenta os três amigos do título: Walter (Gérard Lanvin), Paul (Jean-Hugues Anglade) e Jacques (Wladimir Yordanoff). Cada um é definido por uma posição política, um problema afetivo e um problema profissional: Walter, de direita, sonha em vencer um prêmio em seu restaurante e sofre com um divórcio recente; Paul, um escritor centrista, não consegue terminar um livro e namora uma adolescente em segredo, Jacques, de esquerda, abandona as ambições de ser prefeito e amarga a separação com o antigo namorado.

    Tal qual uma série de televisão, a intenção é que eles se complementem, e que suas diferenças gerem as faíscas necessárias para fazer o roteiro se desenvolver. Mas tanta informação faz com que essa introdução pareça artificial, pouco orgânica. É difícil aprofundar em 100 minutos uma eleição política, uma nova paixão, remorsos, livros a escrever e mais dezenas de quiproquós. Os numerosos conflitos paralelos se desenvolvem de maneira pouco satisfatória: Jacques cogita concorrer a um cargo de político, e duas cenas mais tarde, já está somando os votos ao fim da eleição. São muitas reviravoltas para um filme só.

    Mas talvez o problema maior esteja no tom: Grandes Amigos tem todos os elementos necessários a grande farsa, mas insiste em ser um drama. Existem cenas típicas das comédias americanas dos anos 1940, como o pai coruja que coloca baratas no apartamento vazio visitado pela filha, para impedir que ela abandone a casa da família e more sozinha; o instante em que um personagem foge do prédio segundos antes que o outro possa flagrá-lo (algo mostrado num único plano); e também as confusões de identidades trocadas durante uma confissão amorosa. No entanto, os diretores Stephan Archinard e François Prévot-Leygonie decidiram que este era o material ideal para um drama humanista.

    O resultado deixa muito a desejar. Algumas simbologias explícitas ficam deslocadas no gênero dramático: Jacques anuncia que pretende entrar na batalha política enquanto lustra uma espada (!), Walter tem o seu coração partido logo após sua zebra de estimação literalmente ter o coração explodido em dois (!), o mesmo Walter decide ser uma pessoa melhor após ouvir uma metáfora gasta sobre a parte escondida dos icebergs, a filha Clémence (Ana Girardot) diz ser muito adulta, e dois segundos depois cobra do pai as suas jujubas favoritas. É o tipo de piada que funciona muito bem em sitcoms (The Nanny explorava esses contrastes óbvios com destreza), mas não convence numa história de amizades eternas, amores impossíveis e lições de vida.

    A equipe afirmou em entrevistas que o filme homenageia os romances leves dos anos 1970, feitos por Claude Sautet. Talvez a história do amor de Paul pela jovem filha do melhor amigo permita essa comparação. Mas não existe uma releitura desses códigos, ou uma atualização da linguagem cinematográfica para os nossos tempos. A moral pode ser moderna (a homossexualidade de Jacques é aceita sem problemas, a as mães são progressistas e liberais), mas o cinema é feito à moda antiga: Archinard e Prévot-Leygonie abusam dos fades, dos temas musicais reincidentes compostos com pianinhos, dos planos fechados nos rostos do trio central.

    Quanto às atuações, os três atores principais são certamente muito talentosos, mas fica difícil desenvolver complexidade e fluidez em tipos tão engessados pela mecânica do roteiro. Talvez as atrizes coadjuvantes se saiam melhor, justamente por não ficarem restritas aos estereótipos: Zabou Breitman é sempre uma presença bem-vinda e natural em cena, e Natacha Lindinger apresenta uma força perturbadora no olhar quando confronta o marido adúltero. É uma pena que elas não tenham mais tempo em tela.

    Por fim, Grandes Amigos é prejudicado por sua indefinição de tom. Ele poderia ser uma boa comédia de costumes, ágil e despretensiosa, ou então poderia abandonar todas as simbologias e os clichês e de fato adentrar o terreno do melodrama, que serviria muito bem aos dramas dos três amigos. Nesta abordagem escolhida pelos cineastas, o produto é algo intermediário: nem leve, nem profundo; nem dramático, nem cômico.

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