Hayao Miyazaki é um dos maiores (senão o maior de todos) animadores da história do cinema. Os próprios fundadores da Pixar - John Lasseter e companhia - consideram-no seu mestre. O animador é responsável por grandes obras da animação como "Princesa Mononoke", "O Castelo Animado", "Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar", além de sua grande obra-prima "A Viagem de Chihiro". Decorrente de tão boa trabalho, Miyazaki conquistou muitos fãs ao redor do mundo (inclusive eu). Então recebemos a triste notícia de que ele iria se aposentar. Ele anunciou que "Vidas ao Vento" seria sua última contribuição para o cinema. É nesse panorama de despedida que o filme estreou. O longa acompanha Jiro Horikoshi, que projetou aviões para o Japão durante a Segunda Guerra Mundial e sua relação amorosa com a donzela Naoko.
O roteiro é de Hayao Miyazaki. O roteiro desenvolve muito bem os personagens. No início do filme, o sonho de projetar aviões já é apresentado para o espectador. Assim, à medida que a história se desenrola e Jiro vai conquistando seus objetivos, percebemos o crescimento do personagem. O filme é baseado numa história real e isso o difere dos trabalhos anteriores do diretor. Antigamente o diretor gostava de contar histórias fantásticas de princesas, porém dessa vez percebemos um roteiro mais sério e real. Como já disse, o protagonista projetou aviões para o Japão na II Guerra. Porém não foram simples aviões. Jiro projetou o modelo dos aviões que fizeram o famoso ataque à Pearl Harbor, nos EUA. Muitas pessoas podem achar então que Jiro era um homem cruel e sem coração. Porém, o roteiro de Miyazaki é tão sutil que nos mostra como os jovens japoneses estavam assustados com a Guerra e que Jiro não projetou os aviões com a finalidade da destruição, mas com a finalidade de realizar o sonho de sua vida. O roteiro mostra ao espectador que muitas pessoas durante a Guerra não tinham nada a ver com os conflitos. A Guerra foi totalmente feita pelos militares. Uma forma que o roteirista teve para ilustrar essa situação foi desenvolver uma relação amorosa com uma garota com tuberculose. A relação entre eles é muito bem construída e é moldada no amor.
A direção também de Hayao Miyazaki. Como o diretor trabalha num filme realista, ele perde o artifício dos olhos grandes que tornam os personagens mais "fofos". Porém essa falta de infantilidade não é ruim. A direção dele é muito compacta e os planos usados são belíssimos. Aliás, o visual do filme é incrível. O Studio Ghibli mais uma vez nos traz uma animação com grandes acertos visuais. A animação foca muito nos detalhes no ambiente, com uma leveza de tom de cor que impressiona. É um filme para se ver no cinema. Os efeitos especiais são fantásticos. Mesmo a história sendo real, o diretor não deixa sua marca de lado. Em vez de apresentar situações fantásticas, Miyazaki trabalha o personagem na vida real, mas também trabalha com os sonhos do personagem. Como nos sonhos tudo é possível, Miyazaki usa tomadas surreais para mostrar situações praticamente impossíveis, que se misturam com as características dos personagens na vida real. A trilha sonora usada é tocante e suave.
Mesmo tratando-se de uma animação, o filme tem um tom mais adulto. As crianças até se divertirão com a história de amor entre Jiro e Naoko, porém o roteiro foca mesmo é na inocência dos jovens japoneses durante a Guerra. Além disso, o roteiro demonstra algumas atitudes que fazem o espectador pensar e refletir. O filme foi indicado ao Globo de Ouro de "Melhor filme estrangeiro" e ao Oscar de "Melhor animação", mas não levou nenhum. A crítica americana não está tão boa, pelo fato dos aviões terem atacado e matado milhares de soldados americanos, por isso o filme não arrecadou nenhum prêmio. Até entendo essa visão americana do filme, mas não concordo, pois Miyazaki deixa explícito a situação do protagonista. "Vidas ao Vento" é um espetáculo visual que conta com uma bela história de amor e demonstra a inocência dos jovens perante à guerra.