Lançado em 1990, o suspense de terror Linha Mortal era estrelado por jovens atores em ascensão em Hollywood – como Julia Roberts, Kiefer Sutherland, Kevin Bacon e William Baldwin – e dirigido por Joel Schumacher, deixando pouquíssimas lembranças nas mentes de quem o assistiu – tornando-se um exemplar pouco memorável do gênero. Passados 27 anos, o diretor Niels Arden Oplev (do Millenium sueco original e um dos diretores da série Mr. Robot) comanda está refilmagem – que, sinto informar, é mais desnecessária ainda que o seu original para a sétima arte.
Apostando na clássica (mas que ainda pode ser funcional) técnica de tentar mostrar os traumas e medos de seus personagens para tentar causar a identificação da plateia com eles, o roteiro de Além da Morte é uma das coisas mais tímidas já vistas em filmes de terror este ano, dada a sua previsibilidade e aparente controle para manter as cenas mais amenas – é difícil destacar algum momento de suspense interessante ou que realmente impressione – isso justamente pela falta de entrosamento das ideias do roteiro para os personagens com as atuações, que não consigo encontrar palavras melhores para defini-las além de “atores no piloto-automático”.
Embora Ellen Page seja a única que consiga conferir algo mais marcante em sua interpretação, é triste ver uma atriz talentosa vivendo a estudante de medicina Courtney, que, traumatizada e se sentindo culpada pela morte de sua irmã mais nova, desenvolve uma técnica para poder falecer por alguns minutos e conseguir ter a tal da “experiência de quase morte”, que muitas pessoas relatam ter, por acreditar que possa encontrar sua falecida irmã assim. Sem contar sua intenção real para seus amigos de curso, eles logo se sentem tentados a fazer a mesma coisa, já que a experiência parece estimular a mente e corpo de quem se submete a ela – entretanto, com o tempo, os estudantes passam a se sentir perseguidos por alucinações e visões que parecem remeter a fatos obscuros de seus passados.
Eis aqui um exemplo de quando a sugestão não funciona quando envolta de uma estrutura de suspense e terror mal feita – afinal, o que são essas criaturas que eles encontram? Seres que se alimentam de medo? Fantasmas justiceiros? Infelizmente, nada que consiga realmente aterrorizar. Ainda que curiosa (e até divertida) a maneira como apresenta o comportamento de cada personagem até metade do filme, o roteiro se enfraquece imensamente em seu terceiro ato, justamente por dar uma solução simples e pouco atrativa para os problemas dos personagens – que, lamentavelmente, não tem seus potenciais bem explorados – a Sophia de Kiersey Clemons que sofre pela pressão de ser forçada a estudar pela mãe (refletindo a situação de muitas pessoas que estudam o que não querem) e por ter praticado bullyng com uma antiga colega de escola; o Jamie de James Norton, mulherengo, que não assumiu um relacionamento (numa discreta critica ao aborto); a Marlo de Nina Dobrev que cometeu um erro médico gravíssimo (aqui algo sobre profissionais irresponsáveis) – enfim, nada explorado a fundo, sem conseguir atingir o emocional de quem acompanha a história – aliás, a única parte que realmente tem alguma característica mais “real”, é o romance de Marlo com o Ray de Diego Luna (de Rogue One), conferindo alguns diálogos clichês que, mesmo assim, ajudam a mostrar o sentimento que adquirem desde o inicio, quando se encaram como rivais no hospital em que estudam e trabalham. Há ainda a participação rápida de Kiefer Sutherland (do filme original), como um supervisor dos alunos – que só agrega como homenagem e nada mais.
Apostando em estruturas de susto comuns – rostos surgindo em banheiras, mãos batendo em vidros, vultos saltando em direção a tela – a direção de arte também é pouco original, já que confere coisas como mensagens escritas com sangue em paredes – sem falar na falta de vergonha em mostrar que o mundo do pós morte é na verdade um grande fundo verde, com cenários digitais construídos com menos esmero do que a concepção que um jogo de Resident Evil tem sobre suas ambientações. E a trilha de Nicolas Barr aparentemente desaparece do meio para o fim – o que é lamentável, pois começa até interessante, dando algum dinamismo nas apresentações iniciais.
No mais é um trabalho que desperdiça uma ótima atriz e situações criticas que poderiam ser melhor abordadas, não conseguindo aterrorizar e nem prender com seu suspense mal elaborado – assim como as personalidades de seus personagens – que, em tempos de It – A Coisa, onde a construção de papeis é algo primordial, soam tão sem graça quanto o final insosso deste Além da Morte.