Coma criativo
por Lucas SalgadoA maior prova de que Hollywood passa por um momento de crise de criatividade não está apenas no número excessivo de remakes, mas principalmente no fato de que até mesmo filmes comuns do passado estão sendo refilmados. O suspense Linha Mortal (1990) é o mais novo exemplo disso.
O longa estrelado por Kiefer Sutherland, Julia Roberts e Kevin Bacon oferecia um entretenimento razoável, mas passou bem distante de se tornar algo memorável. Entrou no esquecimento. Pelo menos até agora, quando ganhou nova versão pelas mãos do dinamarquês Niels Arden Oplev, conhecido pelo trabalho no primeiro Os Homens que Não Amavam as Mulheres.
Do elenco original, Sutherland está de volta, o que até gerou um boato de que se trataria de uma continuação. O ator, no entanto, vive um personagem diferente, deixando claro que se trata de uma refilmagem.
A trama acompanha cinco estudantes de medicina que decidem estudar a experiência de quase-morte. Eles, então, se submetem a uma prática arriscada de ter o coração parado e depois revivido. Passados os experimentos, eles começam a perceber que há algo de estranho com cada um, diretamente relacionado com os pecados que cometeram na vida pregressa.
Ellen Page, Diego Luna, Nina Dobrev, James Norton e Kiersey Clemons vivem os cinco jovens. A seleção do elenco, por si só, já mostra um pouco da abordagem confusa da produção, uma vez que selecionou atores entre 23 e 37 anos para viverem jovens de idades parecidas.
Enquanto Diego Luna nos faz lembrar os tempos de Dirty Dancing - Noites de Havana, Ellen Page nos faz esquecer que ela já foi a incrível Juno. E o que falar de Nina Dobrev? A eterna Elena de The Vampire Diaries surge completamente sem carisma ou expressão.
É claro que falar do elenco é quase crueldade diante do pobre roteiro escrito por Ben Ripley. Nem parece a mesmo pessoa que escreveu o envolvente Contra o Tempo. Sem conseguir criar uma ameaça realmente interessante, o texto ainda falha no desenvolvimento de seus protagonistas, oferecendo pouquíssimas informações e construindo tudo em cima de estereótipo óbvios e vazios.
Além da Morte representa um coma criativo da indústria cinematográfica. Fazer um remake de algo médio já é estranho. Fazer um remake de algo médio sem tentar trazer nada de novo é ainda mais bizarro.
Linha Mortal já era um suspense genérico. Além da Morte é um suspense vencido.