Impressionante. Essa é a palavra que chega à cabeça ao final da sessão. Além do talento inato do diretor Steve McQueen (é o segundo filme dele que eu vejo, e o terceiro de sua carreira), o filme impressiona por sermos amplamente castigados ao assistir tamanha barbárie de maneira tão dura sabendo que tal história é baseada em fatos reais. É de deixar qualquer um bestificado tamanha crueza das imagens e inúmeras reflexões que cabem ser feitas após a catarse de assistir a esse longa. Houve um grupo de pessoas que aplaudiram ao final do filme, e eu só não fiz o mesmo por ainda estar tonto tamanha a crueldade que vi em cena e precisar de um tempo para assimilar tudo aquilo que acabara de assistir. A reflexão maior que paira é a de quão cruel e injusto os seres humanos podem ser, apenas pela conveniência de quem tem algo considerado socialmente mais que os outros. É de um absurdo tão grande que choca. A cena com o Paul Giamatti onde ele comercializa os escravos é apenas uma pequena amostra de que ainda muita coisa ruim aconteceria. A exposição de pessoas como mercadoria sempre me pareceu algo aterrador, e isso já foi retratado várias vezes na literatura e no cinema, mas nunca me senti tão incomodado quanto nesse filme. E isso foi apenas o começo. A passividade das pessoas ao redor de tantas barbaridades é o que mais me incomodou durante toda a projeção. Sem dúvida essa intenção era clara desde o início pelo cineasta, e tem uma cena extremamente forte que mostra isso, quando um homem prestes a ser enforcado, se apoiando na posta dos pés para sobreviver, e ao redor vemos pessoas trabalhando como se nada de anormal estivesse acontecendo. Esse é apenas um dos vários exemplos jogados na tela onde o medo faz com que as pessoas não ajudem as outras devido a represálias que certamente sofreriam. A regra do “cada um por si” é o que vale, e qualquer tentativa de fugir disso, se mostra passível de pena. O filme é tão triste e causa tamanho desconforto, que alcança a marca de filmes extremamente cruéis como “Dogville” e “Dançando no Escuro”, do Lars Von Trier, ou “Foi Apenas um Sonho”, do Sam Mendes, ou ainda “Babel”, de Alejando Gonzales Iñárritu, que figuravam entre os mais tristes que eu me lembro de já ter visto. Contudo, 12 Anos de Escravidão consegue ser ainda pior, e não pela mão pesada do diretor, mas sim por ter sido baseado num fato real, o que torna ainda mais visceral e trágico. E o que falar do estupendo elenco? Todos brilham, sem exceção, e mesmo com atores que chamam a atenção por suas cenas como Paul Giamatti, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Sarah Paulson e Brad Pitt, o filme é mesmo de uma trinca de atores excepcionais: Chiwetel Ejiofor, como o protagonista injustiçado Solomon, homem de bem, casado e com dois filhos, culto, músico e letrado, cujo único “mal” (?!?!) é ser negro!!!; Michael Fassbender, como um tirano senhor de escravos, cristão fervoroso, mas que só faz o contrário do que a Bíblia prega; e Lupita Nyong’o, que deve levar o Oscar mais que merecidamente por interpretar a desesperança em forma de mulher, numa das atuações mais marcantes do ano, sem dúvida alguma. No mais, o filme é obra obrigatória. Apesar de ser um filme excepcional, é um filme que não pretendo assistir novamente tão cedo, pois é preciso ter disposição para ver tanta injustiça na tela. Chega a ser revoltante! Mas esse filme denuncia algo que já é sabido por todos, e que grande parte da população somente ignora, naquela passividade incômoda que já citei e que causa tamanha ojeriza. Vale para abrir os olhos e pensar no quanto nossos problemas parecem realmente insignificantes diante de tanta atrocidade que algumas pessoas vivem diariamente, ainda no século 21. Nada melhor do que um pouquinho de história para nos relembrar o quão ruim podemos ser.