Depois de mais de um ano de espera, chega aos cinemas esse filme que veio pra dar um sentido maior à palavra épico. É uma das únicas palavras que me vem a mente quando me lembro da experiência que eu tive na manhã em que eu o assisti. Como grande fã da saga, tinha lido os livros e Em Chamas foi o preferido e o meu recorde de quantidade de vezes em que li. Minha expectativa era, sim, muito grande e eu já imaginava que ia ser algo grandioso, estrondoso e, claro, épico. Mas não esperava tanto. Francis Lawrence criou uma atmosfera que eu não senti ao ler os livros e adicionou cenas, efeitos e situações muito gratificantes aos fãs e também aos espectadores de primeira viagem! Posso dizer que o filme se equipara ou é até melhor que o livro!
As atuações não poderiam ser melhores. Jennifer Lawrence retornou no papel da sofredora, dúbia e guerreira Katniss, e fez um ótimo e emocionante trabalho. Josh Hutcherson retornou ao Peeta e o desenvolveu melhor. Francis conseguiu dar um tom mais másculo a ele, mas ainda conseguiu deixar a essência do real Peeta nele (o que foi muito bom). Liam Hemsworth faz o ainda apagado Gale, mas cumpre o seu papel, um pouco maior, bem. Os próximos filmes, de acordo com os livros, vão dá-lo um maior destaque, só resta esperar. Effie ganhou, merecidamente, maior destaque nessa sequência e Elizabeth Banks conseguiu mostra o lado extravagante dela e ainda emocionar em algumas partes dando vida a essa personagem. Haymitch representou um dos melhores personagens na tela graças a Woody Harrelson, que deu o tom exato ao antigo mentor, agora amigo, de Katniss e Peeta. Esse personagem rendeu cenas engraçadas, claro. O cantor Lenny Krevitz, interpretando o calmo Cinna, honrou o personagem e o fez muito bem,
dando adeus em grande estilo com tudo o que o personagem deixou e ainda deixará para Katniss
. Mas o show mesmo aconteceu nas adições. Sam Caflin surpreendeu interpretando, o tão desejado por todos, Finnick Odair. Sam deu uma cara muito respeitável a esse personagem, fazendo muitos fãs gritarem pela beleza, atitude e, porque não, emoção que ele imprimiu em uma das cenas do longa. Jena Malone, incrivelmente, é a própria Johanna. Tudo dela me lembra a própria. Não bastava Johanna ser uma das minhas personagens preferidas, Jena conseguiu aumentar esse meu amor. Philip Seymour Hoffman, claro, entrega um trabalho muito bom e representa um Plutarch respeitável que, junto com o presidente Snow (Donald Sutherland), reproduz cenas memoráveis e originais, já que o livro não nos mostra as mesmas. Por último, temos Jeffrey Wright, como Beetee, que se mostra uma adição interessante, mas pouco explorada. Nos próximos filmes teremos a oportunidade de vê-lo e conhecê-lo melhor!
Em se tratando da disposição do filme, é gratificante ver como as cenas foram bem trabalhadas e deu tempo pra quase tudo fluir bem. A primeira parte, apesar de ser muito lenta no livro, conseguiu um ritmo muito legal e deu uma base explicativa para o desenrolar da trama. Não acho que o público que não leu o livro vá se sentir muito perdido, tudo é bem explicado e mostrado. A conversa com Snow, a Turnê da Vitória, as rebeliões, tudo tem seu espaço nessa primeira parte. Na segunda parte, no meio, onde é anunciado o terceiro Massacre Quaternário e que os antigos vitoriosos vão participar e voltar para a arena, a emoção toma conta e Jennifer faz um ótimo trabalho. Aliás, Jennifer, Josh e Woody o fazem. Ainda na segunda parte, onde conhecemos caras novas (como Finnick e Johanna) e podemos apreciar de algumas gargalhadas com situações que deveriam ser trágicas, não fosse pelo ofuscamento político que a Capital ainda possui, tais personagens marcam presença e abrem caminho para darem um show. O problema mesmo, ainda que compreensivo, está na terceira parte, onde tudo acontece muito rápido na arena e, talvez fique difícil para aqueles que não leram o livro de acompanhar as pessoas que acabaram de ser apresentadas salvando personagens, morrendo ou fazendo coisas sem sentido, ou seja, com alguns personagens não há o desenvolvimento necessário e, portanto, não há afinidade. O final, portanto, serve para ligar algumas pontas soltas mas, obviamente, deixar algumas muito soltas para os próximos filmes, que prometem demais. A cena final, focando Jennifer, chega a arrepiar e prepara o terreno para o grandioso A Esperança. O final da terceira parte, realmente, não desaponta, trazendo imagens excitantes e muito bem produzidas,
A exemplo da destruição sensacional da arena.
Um outro problema, que pode dificultar a compreensão do decorrer da história, é todo o gancho do Distrito 13. No livro, uns dois capítulos são reservados para uma trama em que é criado o suspense de o Distrito 13 existir ou não.
No final do filme, descobrimos que o Distrito 13 realmente existe, mas como o espectador não foi muito informado, tal revelação não se mostra tão reveladora quanto foi no livro. Tal fato é preocupante, já que o enredo do terceiro livro (terceiro e quarto filmes) se passa muito nesse mesmo distrito.
Não se sabe o que vai ser feito para explicar mais sobre esse importante gancho, só acho que poderiam ter feito alguma coisa maior para introduzir uma parte tão essencial da trama.
Uma coisa muito importante a se falar é sobre o conteúdo político, não muito explorado no primeiro filme e mais realçado nessa sequência. É interessante demais ver uma saga feita para o público jovem trazendo esse conteúdo, e lançando temas como injustiça social, banalização da violência, influência dos meios de comunicação e resistência social. Em Chamas, mesmo com muita coisa pra mostrar, guarda espaço pra isso e mostra situações que já acontecem hoje e outras que podem vir a acontecer, provando o definição da saga como distopia. A influência do governo, no filme representada pelo presidente Snow, atinge tudo e qualquer coisa: a segurança dos distritos, a programação do que é passado para o país, a mentalidade dos oprimidos (agora mais rebeldes), e claro, os Jogos Vorazes. Ou seja, a esfera política está maior, e só vai crescer com o próximo filme, mostrando que a indústria cinematográfica pode criar produtos que façam pensar e que também empolgam. Esse filme, felizmente, consegue realizar isso muito bem.