Depois de entregar a obra-prima independente, O Abrigo, Jeff Nichols resolve aparecer dessa vez com um filme um pouco mais elaborado, e bem mais intimista também. E não é dessa vez que falhou. Sua direção é concisa e seus atores estão muito bons. Matthew McConaughey continua sua virada de um ator qualquer no Cinema americano para um grande ator. Mud, na verdade, é um grande personagem, mas apesar de dar título ao filme, é coadjuvante. O filme é mesmo do garoto Ellis, interpretado de forma excepcional por Tye Sheridan. Esse ator tem seu primeiro filme de destaque aqui, já que em A Árvore da Vida só havia espaço pra Hunter McCracken brilhar. E tem pelo menos umas três grandes cenas. É uma belíssima interpretação mirim.
A condução dessa história é muito interessante também. O filme é bastante introspectivo, e as coisas acontecem sempre ao seu tempo. Isso gera, inevitavelmente, uma queda de ritmo, que é muito bem acentuada pelo clima que o filme propõe. Por mais lento que seja, as cenas nos deixam vidrados e há uma intenção clara de não deixar o espectador se afastar da história, por meio de informações que são dadas ao longo da narrativa, construção de personagem ou a ambiguidade de Mud.
Aliás, Mud, por mais que seja um personagem que nunca temos certeza se é passível de confiança, cria um laço muito forte com o menino Ellis, de forma que entendemos muito rapidamente o fascínio que esse "vagabundo" provoca no mais novo. E tudo o que envolve a relação de Ellis, Neck e Mud é a espinha dorsal do filme.
Assim, a especie de interesse amoroso que o menino tem uma garota bastante egoísta ao longo do filme nunca é o foco, e por mais que represente uma descoberta ou uma fase pela qual Ellis teria que passar, às vezes soa desnecessária. Não que prejudique o filme em si, porque as cenas em questão são muito bem feitas, mas, sem dúvidas, poderiam pertencer muito mais à essência do filme do que representar apenas um escape narrativo do enredo principal. Além disso, há o personagem de Michael Shannon, que mais deslocado do que está, seria impossível.
Ao final, Amor Bandido, um título que eu critiquei tanto quando foi definido, nem soa tão ruim. Juniper pode ser a grande representação disso, afinal, Mud só estaria na situação em questão por sua culpa. O diferencial é que esse filme é muito do 'não dito', das coisas que ficam nas entrelinhas. Até que ponto Juniper estaria certa nas acusações que faz ao ex? Reese Witherspoon acerta em cheio no tom ambíguo de sua personagem também, e apesar de poucas cenas, não deixa de surpreender.
Mas, apesar do título não ser péssimo, o título original, óbvio, faz muito mais sentido, mesmo quando traduzido literalmente.