Ao adentrar a sessão de “Ninfomaníaca – Parte 1″ , senti que a atmosfera e o público eram diferentes do habitual. Não que, não sejam cinéfilos ou quem sabe adoradores de Lars Von Trier, talvez estavam mais para, curiosos, em relação ao tão divulgado “filme pornô de arte”. Pois bem, a grande questão afinal é, porque dessa grande divulgação sobre o filme ?
Dentre todos os países, possíveis e aptos a receber o filme, o Brasil foi o que recebeu destaque maior, tanto na exposição, quanto a disponibilidade. E isso se dá por um simples motivo. Gostamos de sexo. Ainda que para alguns o tema seja um tabu, somos expostos, à todo momento, a situações erotizadas ou que nos remetem ao ato sexual. Não há que se envergonhar quanto á isso. Só o carnaval por si só, comprova que nudez é algo natural.
Pensando nisso, a divulgação do filme foi correta. Mas a maneira, pela qual ele foi classificado não. “Ninfomaníaca” é um filme de quase 5 horas de duração (dividido em 2 partes), que conta a história de Joe (Charlotte Gainsbourg, musa do diretor) e sua disfunção sexual. Ou seja, não é um filme pornô. É um filme sobre sexo.
Diferentemente de “Shame” de Steve McQueen, no qual o foco, foi o vício de um homem, pura e simplesmente pelo ato sexual (não importando sequer, se fosse pornografia). O filme de Von Trier vai por um caminho diferente. Contado em capítulos, como um livro, ele mostra a vida sexual de Joe (na juventude interpretada por Stacy Martin), que tem como único objetivo saciar sua vontade por sexo, não se questionando se existe um problema ou disfunção, e sim, mostrando que o ato, é um espelho de seu caráter.
Tendo isso em mente, é simples entender a proposta do filme. Mais do que uma alegoria de órgãos sexuais ou todo tipo de prática, o filme que discutir, como reagimos a solidão. Tema recorrente em seus últimos 2 filmes, agora, em seu mais recente, percebe-se que foi possível fechar uma trilogia, que discute as mais diversas reações para com tal sentimento. Se sexo é uma válvula de escape, pudemos perceber isso muito melhor em “Anticristo”, quando Willem Dafoe e a mesma Charlotte Gainsbourg fazem sexo, enquanto o filho de ambos morre; ou em “Melancolia”, quando a personagem de Kirsten Dunst nua, admira o luar, deitada sobre uma rocha, sabendo que faltam poucas horas para o mundo acabar.
Sendo assim, “Ninfomaníaca” mais constrange do que choca. O sexo é explícito, mas é também frio, calculado, planejado. Tudo em prol da necessidade da protagonista. Essa primeira parte, então, não se aprofunda na verdadeira discussão do filme. É somente a introdução, de uma história na qual não sabemos os detalhes. Quando temos uma pequena noção de como Joe parece ter descoberto uma saída para sua solidão, o filme abruptamente acaba.
Vender o mais recente filme de Lars Von Trier como um pornô, foi uma excelente estratégia de marketing, em especial no Brasil. Salas lotadas, muita gente falando sobre o filme, mas poucas pessoas entendendo do que se trata à obra. O público brasileiro esta acostumado com isso. Desde novelas à comercias, erotizar é uma maneira de seduzir o público. Ainda que de forma sútil, somos colocados numa berlinda. Somos dogmáticos quando nos convém, mas nunca vamos admitir isso. Será que sexo explicito é afinal, tão chocante assim ?