Quando assisti a esse vol. 1, saí com algumas impressões negativas sobre a mensagem que ele me tinha passado. Saí com a impressão de que ele tinha falado de forma superficial da ninfomania, que tinha abordado a protagonista de forma preconceituosa, como uma subalterna.
O interlocutor de Joe (Charlotte Gainsbourg) é o "bom velhinho" Seligman (Stellan Skarsgard). E o fato de o filme consistir basicamente nas confissões de uma ninfomaníaca frustrada e que se autodeprecia a todo instante, perante alguém aparentemente respeitável, culto, branco, mais velho e homem, que é responsável por "colocá-la pra cima" sempre, lançando olhares de compaixão e curiosidade sobre aquelas histórias de perversão, num distanciamento que quase o santifica perante ela, a pecadora, tudo isso me incomodou no volume 1.
E que bom que eu assisti ao volume 2 posteriormente.
Ora, como é que Lars von Trier, aquele que disse no Festival de Cannes que "entendia Hitler", defendendo-o a ponto de ter se tornado "persona non grata" no Festival, e que, logo em seguida, anunciou Ninfomaníaca, criando a expectativa de um filme diferenciado e provocador, como é que esse mesmo homem levaria tantos ao cinema para assistir àquilo que já vemos sempre nas nossas teles de 30 e poucas polegadas em qualquer novela das 8? Como ele faria todo esse furdunço para simplesmente colocar um bom velhinho dando lição de moral em uma jovem insandecida por sexo? Encontrei as respostas assistindo ao 2 (mas precisei do 1 para formular as perguntas).
O fato é que encontrei no volume 1 uma boa dose de frustração. Um início meio chato, uma cena de 2 minutos filmando chuva, parede, e chuva caindo na parede.
Depois a história pareceu ficar melhor, uma adolescente retraída que encontrava nas aventuras sexuais um pouco de vida, não necessariamente com prazeres (a primeira vez da menina é estafante de se ver, sem um pingo de alegria, como se ela estivesse exatamente cumprindo uma obrigação orgânica).
Lars von Trier separa nitidamente o sexo do prazer. Ali o sexo é confundido com um simples vício, que pode ou não conduzir ao prazer. Muitas vezes, pra Joe, não conduz. As cenas mostram uma adolescente curiosa, mas mecânica em muitas de suas experiências. Em poucas ela parece realmente se sentir envolvida.
E eu acho que aí reside uma marca importante do filme: mostrar algo que as pessoas não querem/não esperam ver. Se alguém foi direcionado a ver uma mulher sensual, carnuda, fatal, dê meia volta. O filme fala das sensações de uma mulher compulsiva. Seus atributos pessoais não estão ali pra agradar aos olhos do espectador.
Apesar disso, senti um enfado nesse volume, um tédio mesmo. Algo pessoal. A história me chegou sem sobressaltos. Não foram muitas as cenas que me fizeram ficar de olhos grudados na tela. A Joe adolescente (interpretada pela Stacy Martin) me pareceu tão morta que não me trouxe nenhum pouco de vida. Daí também minha má impressão.
Já itens como o som da primeira cena ("Fuhre Mich" da banda de heavy metal alemã Rammstein), que estende um tapete de boas vindas pra uma história escura e "pesada" (confesso que não senti tanto essa sensação nesse primeiro volume do filme); a atuação da Uma Thurman fazendo a esposa descontrolada que descobre a traição do marido com a Joe, então na sua fase adolescente; a retratação das cenas de infância da Joe, que me lembrou muito a retratação da infância da Amélie Poulain; foram alguns que me prenderam o olhar e que me fizeram ver esse volume como "mais ou menos", que me fizeram ansiar pelo próximo, aquele em que provavelmente o heavy metal alemão começasse a fazer mais sentido na história.