O filme começa com uma tela preta, demonstrando a inconsciência da atriz principal, ou seria o desejo pela inconsciência? De repente, Rammstein começa a tocar, uma música um tanto quanto sombria, falando sobre sangue, dor, perda e corpo. A ninfomaníaca está deitada no chão, coberta de sangue. O que aconteceu? O encontro entre os dois personagens principais gera uma ansiedade, pelo nome no filme, não era estranho supor que mesmo se encontrando naquela situação, surgiria uma tensão sexual entre eles.
Deitada na cama, a ninfomaníaca demonstra auto desprezo. A cena nos remete à confissão religiosa, a imagem do anfitrião se assemelha a de uma padre, ouvindo e perdoando os pecados da fiel, em seu leito de morte. Imediatamente, no entanto, ambos se declaram não religiosos, embora a personagem principal a todo momento se acuse de pecadora. O anfitrião faz um questionamento interessante, como uma pessoa que se diz não religiosa, é capaz de se apegar ao pior conceito da religiosidade, que é o pecado?
O diálogo flui naturalmente, enquanto a ninfomaníaca conta de suas experiências sexuais, um tanto quanto desesperadas e impulsivas, o afitrião também conta um pouco de sua história, que é justamente oposta: monótona, séria e solitária. A ninfomaníaca usa dessas histórias, sobre pescaria, música, matemática e literatura, para contar a sua própria. É a metalinguagem, a arte falando sobre a arte! Bach, Poe, Fibonacci: uma verdadeira aula cultural, contraposta a uma aula sexual.
As cenas de sexo são explícitas, mas longe de ser comparáveis a um pornô. O sexo não é visto como algo excitante, e sim como algo necessário, um escapismo. Por mais variadas as experiências, o sexo não deixa de ser monótono. A expectativa da protagonista ao perder a sua virgindade aos 15 anos, seguida de frustração. E assim foi toda a sua narrativa: frustrante. Até a sua última frase do filme.
Apesar da crítica clichê ao sexo, ao casamento e, é claro, à Igreja, o filme choca. Não pelas cenas de sexo explícito, que se pensarmos bem é o menos chocante, mas pelas ações, pelas relações e pelos desejos mais obscuros do ser humano.