Três mulheres e um salva-vidas
por Francisco RussoO diretor Hong Sang-soo tem vasta carreira em festivais mundo afora, mas raramente algum de seus filmes chega ao circuito comercial brasileiro. O primeiro deles, Hahaha, estreou apenas em dezembro de 2012, com dois anos de atraso. A Visitante Francesa teve melhor sorte: lançado no Festival de Cannes 2012, estreia nas salas nacionais menos de um ano depois. Só que o diretor tem outros 13 filmes que jamais estrearam por aqui, no máximo foram exibidos em festivais locais. Com isso, Sang-soo se tornou um diretor que, por mais que seus filmes sejam elogiados fora do país, pouco foi visto no Brasil – mesmo dentro do limitado circuito de arte.
Dividido em três episódios independentes um do outro, A Visitante Francesa tem uma estrutura bastante simples. Cada um deles conta com o mesmo elenco e os mesmos personagens, só que em situações ligeiramente diferentes. Cabe a Isabelle Huppert interpretar a personagem-título, Anne, uma mulher que chega à Coreia do Sul para encontrar um conhecido. Em meio aos contrastes diante da cultura e dos costumes locais – não só dela em relação ao país, mas também dos habitantes em relação a ela -, acaba conhecendo um insólito salva-vidas, interpretado por Yu Junsang. É ele que consegue dar alguma graça ao filme.
Exagerado, espirituoso e dono de uma voz de timbre forte, o salva-vidas mais parece um personagem de desenho animado, de tão deslocado que é em relação às pessoas à sua volta. Sempre atabalhoado, ele conquista o espectador com sua simpatia. Seja nas tentativas de agradar Anne ou na escancarada cantada que faz, na qual a convida para sua barraca e canta uma canção improvisada, ele diverte bastante. O problema é que, a partir do segundo episódio, o salva-vidas perde cada vez mais espaço dentro do filme. Ou seja, justamente seu grande trunfo acaba sendo deixado de lado para que outros personagens ganhem força dentro da proposta do filme episódico. Para piorar, nenhum dos demais personagens demonstra tanto apelo e interesse.
A Visitante Francesa é um filme que começa bem, divertido, mas aos poucos vai perdendo força justamente porque as limitações de sua proposta ficam cada vez mais nítidas. A estrutura em que os personagens se repetem torna-se cansativa, por mais que a mesma história jamais seja repetida. No fim das contas a simplicidade empregada acaba agindo contra o próprio filme, seja pelos diálogos básicos ou a própria ingenuidade empregada. Fora a inevitável sensação de que o carismático salva-vidas, de longe o que há de melhor no filme, foi mal aproveitado.