Talvez a resposta de algum sentido, seja o próprio caminho da (eterna) procura.
Dirigido em 1983, por Terry Jones co-criador e membro da companhia de comédia Monty Python, o grupo inglês emprega ao filme uma divisão em "sketches" algo comum as séries de humor televisivas, e que durante ao filme é explicado através do humor ácido, sua divisão assim se dá pela incapacidade do público em acompanhar uma história longa e contínua sem intervalos comerciais ou que não insira ao longo da história violência, sexo explícito ou qualquer outra coisa estúpida ao ponto de ser censurada e provocar polêmica suficiente para tirar as pessoas da tela de uma tv e despertar o interesse de ir ver um filme no cinema.
Esse tom ácido, debochado, sagaz e jocoso estará presente em todos os divisões e sub-divisões de "The Meaning of Life" e ainda assim o roteiro será cuidadoso o suficiente para criar ligações entre as histórias o que é feito de forma muito simples e eficaz, e com muito humor.
O filme é dividido em cerca de oito capítulos: O milagre do nascimento; Crescimento e Aprendizagem; Lutando uns aos outros; Meia idade; Transplantes de órgãos de fígado; Os Anos do Outono; O significado da vida; A morte - e quando esses quadros se ligam o efeito é ainda mais divertido.
Ao mesmo tempo, que o uso de "sketches" possibilita uma dinâmica e propensão de estimular o público a ater-se com momentos e imagens que mais lhe interessam, o contrário a isso também ocorre, se temos uma brilhante abertura com metáforas e que hoje (2017), vislumbra traços de previsão desse nosso futuro, onde o mundo abole o sistema de trabalho através da mão de obra (tal como os escravos idosos do prédio que navega no mar econômico), para viver de uma economia financeira e de ações. Se esse quadro de abertura é feito com maestria e será dispositivo para o enlace com outro capítulo, histórias como do exército inglês, são ineficazes para qualquer análise do filme. Não corroboram em nada e a impressa que causa, é de ser um instrumento de alívio para uma piada anterior mais complexa, intelectualizada e consequentemente respiro para quem não entendeu ou para aqueles que ainda estão refletindo. Esse intervalo de espaços entre um riso intelectual e o riso raso, fácil será apresentando em outros momentos com o mesmo efeito.
Um momento memorável surge no capítulo, os anos de outono, especificamente na "sketche": "The Autumn Years", na qual um senhor monstruosamente gordo, o Sr. Creosote, come desenfreadamente e quando recebe um pequeno pedaço de chocolate, explode. Algo que para nós, brasileiros, é muito familiar quando recordamos da Sra. Redonda, personagem emblemática criada por Dias Gomes para a telenovela "Saramandaia", cujo final da personagem é igual ao do Sr. Creosote.
Há muitos bons momentos no filme de 1983, o meu favorito é o de um grupo de pomposos convidados para um jantar que são interrompidos pela visita da "Morte" (Grim Reaper), em suma, todos que estão ali morrerão e quando questionado do motivo de tantas morte em um jantar, eis que a resposta é devido a um singelo mousse de salmão, e o ponto ápice vem do comentário de uma senhora (Michael Palin), que com sua despretensiosidade diz: "Eu nem comi a mousse". Essa fala que supostamente foi improvisada, e que por ser tão bem utilizada provoca risos, carrega uma sutileza que auxilia na indagação não só do motivo da morte, mas também no sentido da vida, onde não há aparente sentido algum, tudo não passa de mera condições e que na maior parte são ocasionados inerentes ao desejo do homem.
Na busca de responder ao título filosófico que é também o argumento principal de "The Meaning of Life", percebemos que no final, a resposta é menos interessante se comparado ao prazeroso processo na tentativa de responde-la. Talvez a resposta de algum sentido, seja o próprio caminho da (eterna) procura.