Vida adulta
por Francisco RussoSe tem um ator que, ano após ano, tem se firmado em Hollywood com atuações consistentes, este é Mark Ruffalo. Após sua primeira indicação ao Oscar, por Minhas Mães e Meu Pai, ele tem emendado bons trabalhos em filmes como Mesmo Se Nada Der Certo, The Normal Heart, Foxcatcher e, agora, Sentimentos que Curam. É Ruffalo quem sustenta este frágil longa-metragem, calcado especialmente no difícil relacionamento entre pai e filhas.
A história gira em torno do casal formado por Ruffalo e Zoe Saldana (apática), que teve duas filhas apesar do fato dele ser maníaco-depressivo desde jovem. O título original, “Infinitely Polar Bear”, é uma referência à doença, já que a caçula confunde bipolar com “polar bear” (urso polar, em inglês). Os constantes colapsos nervosos, mais uma boa dose de protecionismo, fizeram com que ele se afastasse da família e vivesse em um hospital psiquiátrico. Mas a situação financeira aperta e a mãe decide estudar fora para ver se consegue encontrar um emprego melhor. A saída? Que ele volte para casa e cuide das filhas.
Investindo forte no tema da família disfuncional, a diretora estreante Maya Forbes basicamente situa todo o longa-metragem nas dificuldades enfrentadas pelo pai ao conviver com as filhas, e vice-versa. Em momento algum é posto em dúvida o amor que ele sente por elas, apenas a dificuldade em assumir o papel dele exigido pela vida adulta. Por mais que seja até curioso ver as tentativas do personagem de Ruffalo ao se adaptar à uma vida normal, e o fato do filme colocá-lo quase em pé de igualdade em relação às garotas, a insistência em torno do mesmo tema acaba cansando. Ainda mais pelo fato do roteiro não buscar qualquer variável que não seja o convívio do trio, sem coadjuvantes que agreguem à história ou até algum tipo de viés psicanalítico, que sustente o estado de Ruffalo. É ele e as garotas por 90 minutos, basicamente isto.
Diante da morosidade do roteiro, Sentimentos que Curam (péssimo título nacional!) é um filme até bem intencionado, mas sem ter muito a dizer. Ruffalo se esforça, entregando uma atuação repleta de cacoetes e trejeitos que jamais soam exagerados e até criam uma certa simpatia pelo personagem, mas sem ter com quem dialogar no longa-metragem fica difícil – ainda mais diante da intérprete da caçula, Ashley Aufderheide, que grita o tempo todo. Um ponto interessante é o comentário feito por Zoe Saldana em relação à diferença sobre como brancos e negros são vistos pela sociedade quando estão na pobreza, refletindo o preconceito existente nos Estados Unidos. Por outro lado, é uma pena que o tema seja apresentado de forma tão superficial no longa-metragem. Mais uma mostra de que a intenção da diretora não era outro além de falar - apenas - da relação entre pai e filhas.