Paradoxalmente surpreendente
por Renato HermsdorffDiplomacia é daqueles filmes que prendem a atenção do espectador mesmo que você saiba onde a história vai parar; afinal, a informação de que Paris “continua de pé” não é exatamente um spoiler. O importante não é o “o quê”, mas o “como”.
Explica-se: o longa-metragem assinado pelo alemão Volker Schlöndorff (O Tambor) nos manda de volta para 1944, dentro do contexto da Segunda Guerra Mundial. Fiel, o general alemão Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup) se prepara para cumprir as ordens de Adolf Hitler de... explodir Paris. Simples assim, quase que como por um capricho.
Até que na noite anterior ao trágico plano traçado para a capital da França, ele recebe em seu quarto de hotel a visita inesperada de Raoul Nordling (André Dussollier), o cônsul geral da Suécia, cujo objetivo é convencer o funcionário do Terceiro Reich a abandonar os planos de acabar com a cidade.
Apesar de os personagens terem de fato existido, a trama relatada no filme é fantasiosa, baseada em um artigo de jornal de que citava o plano de destruição de Paris em 1942. O fato serviu de inspiração para o livro “Paris Está em Chamas?”, que, por sua vez, ganhou uma adaptação para os cinemas de mesmo título em 1966 – dirigida por René Clément, com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola, e Orson Welles e Gert Fröbe como protagonistas.
Se a estrutura de Diplomatie (no original), no entanto, soa um tanto quanto teatral (dois atores coabitando um mesmo espaço), não é à toa. A obra se baseia numa peça homônima, que estreou em Paris em 2011, com os mesmos atores representando os mesmos papéis.
Com uma dramaturgia limitada (há cenas adicionais, mas trata-se basicamente de “dois atores coabitando um mesmo espaço”), o filme fica refém do texto e das atuações. O que não é necessariamente um problema. Pelo contrário. Isso porque o roteiro (escrito pelo diretor, em parceria com o autor da peça, Cyril Gely), premiado com o César de Melhor Roteiro Adaptado, coeso, é assumido com maestria e elegância pelos experientes Dussollier (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) e Arestrup (Cavalo de Guerra).
O resultado é uma declaração de amor a Paris. Apesar da trilha sublinhar excessivamente as emoções e, por mais difícil que seja comprar na totalidade os argumentos de ambos os lados (sobretudo do diplomata), a curiosidade sobre “como” eles chegaram lá é cultivada de forma inteligente – e crescente – por Diplomacia. E o desfecho é, paradoxalmente, surpreendente.