‘Divergente’ é saga adolescente com mensagem
Adaptação literária comandada por Neil Burger traz lutas, ação e romance, mas esses elementos não estão desvinculados de reflexões sociais
Em um futuro distópico, a sociedade é composta por cinco facções bem definidas: Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza. As pessoas são obrigatoriamente encaixadas em uma dessas classes. Um teste aplicado em todos os seres humanos é crucial para definir a qual casta cada um pertence. Nesse cenário é que transcorre a trama de ‘Divergente’, filme do diretor Neil Burger baseado em livro de Veronica Roth.
O “quê” necessário para desencadear os conflitos, tão elementar para fazer de um romance um romance, de um filme um filme, é o fato de a protagonista Tris (Shailene Woodley) sair do teste de aptidão com um resultado inconclusivo e, portanto, ser “diagnosticada” como “divergente”. Assim como extremamente raro, ser divergente é extremamente indesejado. Na sociedade imaginada pela trama, a divergência compromete o equilíbrio do sistema e, portanto, a paz social.
Tudo bem, a história bebe (sem reservas) na trama de ‘Jogos Vorazes’: saga adolescente, sociedade distópica, romance em meio ao caos, investimento na superação, fartura de lutas e cenas de ação, vínculos familiares postos em xeque (“a facção antes do sangue” é o lema). Porém, como seu similar, o filme de Neil Burger é um filme de adolescente para adolescente (mas não apenas) que aposta no cérebro sem deixar de apelar para o coração. Entre pinceladas de romance e muita ação, existem menções explícitas à luta de classes, à agonia de ser diferente em uma sociedade cirurgicamente estratificada e aos questionamentos tanto sobre a estereotipagem de seres humanos quanto aos atritos de se impor permanentemente o social acima do individual.
Inspiradas pelos clássicos da literatura ‘1984’, de George Orwell, e ‘Admirável Mundo Novo’, de Aldous Huxley, filmes (e trilogias) como ‘Jogos Vorazes’ e ‘Divergente’ colocam no centro das discussões da cultura pop o tema de futuros (?) distópicos. Nada mais sugestivo em uma sociedade submersa, entre tantas características, na hipervalorização da tecnologia e na frieza do ultracapitalismo em detrimento do humano.