Por se passar num mundo futurista, altamente dividido, com potencial para a repressão da liberdade de pensamento e que exige responsabilidades grandes de seus habitantes mais jovens, a série de livros bem-sucedida escrita por Veronica Roth, composta por “Divergente”, “Insurgente” e “Convergente”, tem sido comparada a uma outra famosa série literária chamada “Jogos Vorazes”, de autoria de Suzanne Collins. Assim como ocorrido com a história estrelada por Katniss Everdeen (interpretada por Jennifer Lawrence), Roth está começando a ver a sua série sendo adaptada para o cinema.
Durante a primeira hora de “Divergente”, filme dirigido por Neil Burger, o roteiro escrito por Evan Daugherty e Vanessa Taylor é um tanto didático, explicando o pano de fundo no qual se passa essa história. Numa cidade futurista, a sociedade divide-se em cinco facções, cada qual dedicada a uma virtude: a Abnegação (altruísmo), a Audácia (coragem), a Sinceridade (verdade), a Amizade (simplicidade) e a Erudição (inteligência). Quando os adolescentes completam 16 anos, são submetidos a uma espécie de teste de orientação vocacional, que os leva à escolha definitiva de suas vidas: a qual facção eles desejam pertencer? Quando os jovens não se adequam a nenhum desses grupos, eles são chamados de divergentes.
É interessante a ideia por trás dessa premissa, pois ela lida com o contraste entre dois conflitos que são típicos da adolescência: o desejo que os jovens tem de pertencer a um grupo e de serem aceitos; e, ao mesmo tempo, o medo que os adolescentes possuem de serem rotulados – o que eles desejam, no fundo, é a liberdade de serem como eles são de verdade. Esse não é um problema para a personagem principal de “Divergente”. Beatrice Prior (Shailene Woodley) sabe muito bem quem ela é e o lugar ao qual ela não pertence. O desejo dela por se descobrir e por enfrentar seus medos a leva a abandonar a sua família (seus pais – interpretados por Tony Goldwyn e Ashley Judd – e irmão – interpretado por Ansel Egort) e a entrar na Audácia.
A partir do momento em que Beatrice se junta à Audácia e se dá o nome de Tris, temos o grande ponto de virada na trama de “Divergente”. O primeiro filme dessa série, na realidade, tem o objetivo de fazer a contextualização geral da trama, de forma a que conflitos mais sérios possam ser desenvolvidos nas continuações. Portanto, devemos prestar atenção aqui à jornada de amadurecimento de Tris na Audácia, o relacionamento que ela estabelece com Four (Theo James), a maneira como ela lida com a sua condição de divergente e a forma corajosa com que ela se impõe diante dos líderes, ao mesmo tempo em que mantém vivo os valores que lhe foram passados pela sua família (integrantes da Abnegação).
Apesar do tom didático, “Divergente” é um filme muito bem construído e que conta com um grande trunfo a seu favor: a presença de um diretor excelente como Neil Burger por trás das câmeras. Nome muito conhecido no cinema independente, esse é o seu primeiro longa de grande apelo popular e ele se saiu muito bem, especialmente por ter decidido colocar o foco de “Divergente” nas pessoas, de forma a fazer com que a gente se importe com as personagens. Nesse ponto, temos o segundo ponto positivo de “Divergente”: o elenco de jovens e experientes atores que cumprem muito bem o seu papel. Que venham “Insurgente” e “Convergente”.