Vale um voto de confiança
por Roberto CunhaParece até piada, mas a comédia Os Candidatos, mostrando a podridão nos bastidores da política, foi lançada muito cedo nos Estados Unidos (em agosto) e tarde demais no Brasil, dando a impressão de um filme certo na hora errada. Isso porque lá as coisas estão esquentando agora na corrida presidencial e aqui o clima já esfriou com a eleição definida no primeiro turno em boa parte dos estados. Com quase US$ 100 milhões arrecadados após 10 semanas em cartaz lá fora, o destino do título em terras brasileiras é tão incerto quanto o de candidatos nanicos. Vai depender muito da propaganda boca de urna, quer dizer, boca a boca.
Na história, Cam Brady é um político safado (com duplo sentido) e se depara com uma nova realidade: sua hegemonia no poder está perto do fim. Dispostos a continuar manipulando a política na região, dois irmãos lobistas e endinheirados resolvem apoiar um outro candidato para derrotá-lo nas próximas eleições. Só que o cara escolhido para a missão é inexperiente, ingênuo e não tem a menor ideia de que o objetivo dos investidores é implantar no local empresas chinesas que adotam um sistema de quase escravidão.
Colocando em confronto o ardiloso veterano contra o novato imbecil, o roteiro explora de forma coesa o potencial do elenco e provoca risos em vários momentos. Afiados como sempre, Will Ferrell detona como vilão e Zach Galifianakis chega a roubar a cena, livre da barba que o consagrou em Se Beber, Não Case! e ostentando um providencial bigode. Além deles, Dylan McDermott está bem como marqueteiro político e a dupla Dan Aykroyd e John Lithgow (abaixo) confere charme nostálgico à produção.
É óbvio, porém, que muita gente não vai entender todas as piadas porque certas gags são bem locais. Mas ainda assim é perfeitamente possível rir. Quem adora o humor beirando o grotesco vai encontrar algumas cenas para saciar sua bizarra sede. Felizmente, essa não é a urna (ops!) única praia do filme, que não poupa a tradicional família, com seu texto ácido e imagens (algumas vezes) podres. Nada que você não tenha visto antes, com exceção para o soco desferido no rosto de um bebê e em um cachorro, duas amostras (nada) grátis e sem muita graça do que pode-se chamar de baixaria.
Para os ligados na trilha sonora, "ampla margem de vantagem nas pesquisas" para o contraste entre o som dos veteranos Bachman-Turner Overdrive ("Takin' Care Of Business") e os mais jovens do Green Day ("99 Revolutions"). Impossível deixar de citar também duas músicas do grupo canadense Heart ("These Dreams" e "Barracuda").
Dirigido por Jay Roach, o mesmo dos divertidos Entrando Numa Fria (2000) e Austin Powers - Um Agente Nada Secreto (1997), Os Candidatos pode não entrar para sua "galeria de eleitos", mas vale um voto de confiança. Ainda mais se você não integra o time dos espectadores mais exigentes. Então aperte o "Confirma" e tire suas próprias conclusões. ;)