RELATÓRIO DO FILME NOÉ (NOAH) COM RUSSEL CROWE
BRUNO SCHWABENLAND RAMOS
CONVALIDAÇÃO EM TEOLOGIA - CLARENTIANO
VITORIA-ES
2014
1. INTRODUÇÃO
O filme deste lançado este ano relata um Noé fora dos padrões pré- estabelecidos da bíblia canônica, mas com isso houve a crítica de vários religiosos que acompanharam a sessão nos cinemas. Uma mistura da mitologia com a crença de outras religiões sobre o diluvio universal.
Assistindo a produção cinematográfica houve a necessidade de ter uma mente aberta e se desprendendo de todos os conceitos teológicos, mas pesquisando alguns fatos sobre dos anjos que foram punidos pelo Criador, pois este não aceitava que fosse mentor da humanidade e em uma abordagem diferente da bíblia canônica que se referia a estes seres como os anjos decadentes do exercito Luciferiano. Não faz uma abordagem clara sobre o motivo do dilúvio, mas pesquisando este evangelho não canônico, tem mesma a hipótese do livro de Gêneses que descreve que os filhos de Deus tomaram para si esposas e alguns acreditam que sejam os anjos que caíram por causa da luxúria. Segundo o Evangelho Apócrifo de Enoque (Enoch) capitulo 15
Agora, os gigantes que têm nascido de espírito e de carne, serão chamados sobre a terra de maus espíritos, e na terra estará a sua habitação. Maus espíritos procederão de sua carne, porque eles foram criados de cima; dos santos Sentinelas foi seu princípio e a sua primeira fundação. Maus espíritos eles serão sobre a terra, e de espíritos da maldade eles serão chamados. A habitação dos espíritos do céu será no céu, mas sobre a terra estará à habitação dos espíritos terrestriais, os quais são nascidos na terra.
Estes anjos que ajudariam a humanidade deixando a sua habitação pode ter alusão aos anjos solares segundo algumas correntes esotéricas, associados à lenda de Prometeu que trazia o fogo na mitologia grega e estes anjos trouxeram a luz para a humanidade, representando a quinta essência da evolução humana.
2. ETAPAS ANTES DA CONSTRUÇÃO DO DILÚVIO
Noah tem um sonho aterrorizante que o Criador puniria o mundo que havia se tornado violento, mas não é focada na produção cinematográfica, a questão do pecado previsto nos evangelhos canônicos, apenas pegando o fruto proibido e com isso perdendo a inocência original, na trama não é mencionada a figura do ser maligno. Os demônios que são retratados na tradição judaicos cristãos como seres de natureza perversa, mas no filme são estes anjos solares que perderam o brilho e por ajudar o protagonista a construir a grande arca, com enfrentamento ao exercito descendente de Caim, a fim de, ajudar os escolhidos a se salvarem, acabam sendo perdoados pelo Criador (nota-se não usa o nome de Deus na maioria das falas).
O personagem central tem uma postura fundamentalista se autoproclama como o único merecedor da clemencia divina, entretanto defendo a destruição dos descendentes de Caim. Em uma abordagem segundo Jimmy Carter retrata a questão do fundamentalismo religioso algo pertinente no personagem de Russel Crower, como característica desta postura demostra ser um homem autoritário, se considerado superior aos demais, pois estes eram da geração perdida de “cainista” e considerava natural a punição destes supostos ímpios. Nesta época retrata a posição da mulher que não tem nome na trama, pois era retratada apenas como procriadora, entretanto contextualizando em religiões extremistas as mulheres são oprimidas pelos “Noah” da atualidade. Os filhos poderiam se representados os companheiros de credo que não teria direito a questionar, as supostas verdades, e na atualidade seriam satanizados.
Há uma clara separação entre os descendentes de Noah, que segundo a abordagem do diretor Darren Aronofsky, há uma clara diferença em que demostra que estes líderes fundamentalistas, estavam certos em sua postura segregacionista contra os descendentes de Caim, sem ao menos mencionar o arrependimento para estes supostos “perdidos”, entretanto a punição com a morte seria natural (o mito do Deus violento e punidor). De acordo com Carter (2007, p. 28).
Quase invariavelmente, os movimentos fundamentalistas são conduzidos por homens autoritários, que se consideram superiores aos demais, dentro dos grupos religiosos, propõem-se acirradamente a subjugar as mulheres e dominar seus companheiros de credo;
Embora os fundamentalistas acreditem que o passado é melhor do que o presente, eles retêm aspectos de suas crenças religiosas - tanto históricas como no mundo moderno- dos quais possa se beneficiar;
Os fundamentalistas fazem claras distinções entre eles (como crentes) e os outros, convencido do que estão certos e de que qualquer que o contradiga é ignorante e possivelmente maligno; [...]
Em resumo, há três palavras que caracterizam este tipo de fundamentalismo: rigidez, domínio e exclusão.
3. A CHEGADA DO DILUVIO
Os Sentinelas ajudaram na construção da arca, o que no Evangelho de Enoque são chamados de anjos e na bíblia canônica estes anjos decadentes sãos rotulados de demônios. Noah pede uma intermediação destes antigos seres para que os ajudem contra o exército dos descendentes de Caim, ao ser destruído aquela aparência petrificada, os anjos recuperam o brilho original e conseguem retornar para a casa.
Diferentemente da tradição judaica (Torah) que afirma que a família do personagem central da trama foram os únicos sobreviventes do cataclismo, mas o chefe do exército de Caim luta para tomar a arca do comando de Noah para criar uma nova raça humana segundo a sua imagem. No interior da arca é travado uma luta violenta entre estes dois personagens o protagonista e vilão, este último acaba morrendo pelas mãos do filho de Noah.
Ao saber da gravidez de uma das noras supostamente cumprindo a missão divina, pois deveria matar a criança caso nascesse do sexo feminino, tão obstinado em cumprir este mandamento para que a raça humana comece purificada (alusão do que em nome de Deus acaba cometendo atrocidades), ao saber do nascimento das crianças, então pega uma faca para matá-las, mas não consegue realizar tal coisa. A família de Noah por diversas vezes questionou a postura adotada, porem várias vezes fora sarcástico na forma de falar (alusão a uma liderança religiosa autoritária que não considera a opinião de outros companheiros de credo). Para entender um pouco o lado humano bem retratado pelo diretor, demonstrado vários conflitos, entretanto o mais marcante é a postura diante da religião, seguindo uma abordagem de Allport, na verdade o personagem principal adotou a Religião Extrínseca, isto seria um comportamento de uma personalidade religiosa imatura, por este modelo religioso é fomentado modelos de exclusão (a recusa do personagem principal aceitar que os outros seriam merecedores da clemencia do Criador) e ódio (algo presente ao ser referir aos descendentes da suposta raça amaldiçoada). Teorizando a imaturidade religiosa visto pelo fundamentalismo religioso do único escolhido a ser salvo, uma alegoria a imaturidade e o egoísmo existente na infância.
De alguma forma as sociedades antigas tinham alguma forma de religião, o filme não retrata, entretanto contextualizando o sistema de crença seguido, norteava para a direção, em que a luta contra os infiéis era justificada, como zelo diante da obra de Deus, com isso há um apoio a atitudes preconceituosas e atos de ódio (fato da religião extrínseca).
Outro ponto central é a posição de Noah diante da família, por isso não compreendia os questionamentos realizados pela mulher e filhos, trazendo para o fundamentalismo religioso a postura adotada, não havia uma relação afetuosa com os outros companheiros de credo, tendo uma visão desequilibrada da figura do transcendental. Poderia ser caracterizado segundo Allport
Para ele os sentimentos religiosos da maioria das pessoas são nitidamente imaturos, sendo, na verdade remanescente da infância. Para Allport, esses sentimentos são construções ego-centralizadas, em que indivíduos adotam uma divindade para ajudá-los em seus interesses imediatos. Buscam, assim, um pai benevolente. Também tendem uma visão particular da denominação; tendem a achar sempre “minha religião é melhor do que dos outros” ou “Deus prefere meu povo”. Nesse caso, a religião seria simplesmente um instrumento da autoestima, sendo claramente utilitarista e incidental, segundo ele. Esse tipo de religiosidade seria, na verdade um tipo mecanismo de defesa de uma personalidade não complemente madura. Para Allport, tal forma de religiosidade teria um valor “extrínseco”, pois o indivíduo crê que, sendo religioso, isso seria útil para seus objetivos imediatos (Allport, 1961/1973)
Alguns estudos mostram que o preconceito racial é mais comum entre os que frequentam do entre os que não frequentam igrejas. Esse fato é suficiente para mostrar que a religião é, frequente, uma forma de dividir, e não de unir. A religião extrínseca dá apoio a exclusões, preconceitos e ódios que negam todos os critérios de maturidade. O eu não se amplia, não existe relação afetuosa com os outros, nem segurança emocional, nem percepção realista, nem auto compreensão, nem humor.
4. CONCLUSÃO
O filme retrata claramente a posição fundamentalista de Noah o que retrata, posicionamentos de posturas de alguns grupos extremistas, pode ser citado como exemplo uma fé desequilibrada ao líder do Estado Islâmico, pois segundo a ONU cometeu diversos crimes de guerra. E a mulher é oprimida pelo sistema religioso.
Referencias
CARTER, Jimmy. Nossos valores em risco: A crise moral dos EUA. Tradução de Hilton Felício dos Santos; pesquisa e revisão cientifica Thereza Christina Rocque da Motta. – Barueri, SP: Manole,2007.
ENOCH (Evangelho Apócrifo). Disponível no endereço eletrônico:
NOÉ (filme). Direção Darren Aronofsky. Atores: Russel Crowe (Noé), Jennifer Connely (Naameh), Anthony Hopkins (Mathusalem). Paramond Pictures: 2014 (lançamento 3 de abril de 2014)