Eu sempre achei estranho assistir a remakes. Convenhamos que ir ao cinema já sabendo todo o roteiro do filme é um tanto bizarro. Você já conhece a história, já sabe o que vai acontecer, quando vai acontecer, como os personagens vão reagir… E quando o filme original é daqueles aclamados pela crítica e por cinéfilos do mundo todo, é pior ainda. Todo mundo vai para o cinema esperando ver algo muito melhor – ou, ao que me parece, na maioria dos casos, vê o filme cheio de preconceitos e sai de lá falando que “o original é muito melhor”. É o que acontece com "Carrie – a estranha". E estou aqui hoje pra falar justamente o contrário do que a maioria dos críticos anda falando – o novo remake desse clássico do terror é, sim, um filme bacana. Não é o que as pessoas esperam, mas é um filme interessante mesmo assim.
A maior crítica à produção de Kimberly Peirce (responsável pelo bom "Meninos não choram") e que traz a excelente Chloë Moretz no papel principal é que ela “não faz jus ao filme original”. Gente, é um novo filme. Baseado em um livro – e não no filme anterior. A diretora tem total direito de fazer o que bem entender, adaptar o livro da forma que quiser, expor na tela o que achar que deve. É verdade que Peirce não fez um terror – fez um drama. Isso fica mais que evidente na fotografia clara, mais iluminada, e no foco que ela dá às personalidades dos personagens – e não apenas de Carrie. Mas se ela achou melhor inovar e dar uma nova roupagem a uma história já conhecida, qual o mal nisso? As pessoas se prendem demais a conceitos pré-concebidos e à idéia de que “o clássico é eterno, nada no mundo jamais poderá superá-lo”. Abram suas mentes, galera.
A evolução dos recursos visuais também conferiu um quê a mais nessa nova versão (a anterior é de 1976), que ganhou cores e efeitos mais impressionantes. Alguns, é verdade, são um tanto exagerados e passam um pouco dos limites aceitáveis. Mas, no geral, a produção conseguiu se manter bastante fiel ao livro (até mais que a versão original, na minha humilde opinião) e a atuação dos atores é certamente mais verídica (visto que, na versão original, é tudo bastante teatral). A idéia de descentralizar um pouco a trama de Carrie e aprofundar mais os outros personagens também me agrada. Apesar disso, em alguns momentos, esse recurso acaba também passando da conta, perdendo por vezes a linha narrativa principal. O foco no bullying, esse assunto tão comentado hoje em dia, ao invés do “problema” de Carrie, é bastante válido, mas a “moral da história” explícita no final, a meu ver, foi desnecessária (é tão mais interessante quando o filme – ou o livro – confia no bom senso e na inteligência do público e deixa que cada um entenda, por si só, a mensagem ali subentendida…). De qualquer forma, só o fato de essa versão trazer uma perspectiva diferente da mesma trama já é extremamente positivo.
Em suma, é, sim, um bom filme (não é excelente, mas está longe de ser ruim), mas é preciso assisti-lo com a mente aberta, sem se apegar ao pedantismo cinéfilo que algumas (ou várias) pessoas insistem em apresentar.