Quando a casa dos White apareceu na tela, meu coração "parou". Tirando o trocadilho ridículo, por que quem não leu o livro vai ficar boiando; sério, sempre tenho um pé atrás quando vou assistir ao um remake. Principalmente de um clássico de terror já consagrado ( já vimos o resultado de Stephen King's The Shining). Você entra na sala de cinema com toda a história na cabeça, por que existem livros sobre ele, filmes (nem todos tããão bons; Carrie, a estranha de 2002) e você não espera se surpreender de verdade.
Ela mata todos da escola, enfia um saraiva de facas na mãe e morre aos braços de Sue.
. Mas a questão é que todos sabem a Bíblia de cabo a rabo e mesmo assim são capazes de descobrir coisas novas (não me pergunte como diabos eles fazem, mas fazem). Também vale lembrar que a primeira edição de Carrie foi lançada em 1974 (é tempo pra caramba), e o filme em 1976 e, com certeza, várias crianças e adolescentes da nossa geração não conhecem nem Stephen King, imagine o seu primeiro livro.
E Kimberly Peirce queria introduzir essa obra prima a essa nova era de jovens. Bom, pra mim, funcionou. Vamos por partes. A história de King é atemporal, todos sabem o quão terrível e passional pode ser a crueldade dos jovens, mas não faria muito sentido recriar o clássico com a mesma cabeça de quem nasceu nos anos 70. Apenas não faz sentido. E o uso da tecnologia e toda adaptação para o século 21 foi bem sucedida (apesar de todos os personagens terem o mesmo celular, mas claro que o patrocínio não é culpa da diretora), mas o massacre contra a pobre garota não foi amenizado.
Confesso que me decepcionei um pouco com o elenco de jovens perfeitos e boys magias fazendo do filme parecer uma série da The CW, mas entendi o que a diretora tentou nos passar. assim como King, o filme critica ferozmente a vida dos jovens americanos, um tabefe na cara da sociedade. E o "drama adolescente" do filme acaba nos fazendo pensar. Eles são perfeitos, são bonitos e trepam toda hora sem desmanchar a maquiagem, mas estão destruídos por dentro, tentando se encontrar. E quanto a Carrie (Chloë) uma garota linda pra caramba que mas é distorcida pela crença doentia da mãe ( Moore) - e tem muita gente que diz que Carrie White era uma garota feia, mas King a descreve como uma garota estranha, quieta, com a cara cheia de espinhas e o cabelo cor de palha ensebado. Mas nunca a descreveu como uma garota feia. - É real, e é esse realismo dos acontecimentos que nos faz se identificar com cada personagem e se sentir perturbado quando os créditos sobre. Caramba, eu podia ter sido a Carrie, eu tenho agido com a puta da Chris, ou eu não sei se teria coragem de fazer o que Sue Fez.
Também não podemos esquecer que essa nova geração pede filmes assim, enlatados perfeitos e tesudos. Um exemplo é quando Carrie se revolta e começa a chacina quando, somente, Tommy é atingindo pelo balde. Amor juvenil, Ah. (Cadê o desinfetante?) Mas Kim (somos íntimos, sqn) conseguiu mostrar a sua visão dos fatos.
A trilha sonora também é muito boa, com Vampire Weekend e The Naked and The Famous, e foram usadas músicas nas horas certas e cortadas aqueles toques tecno de horror do filme de De Palma (sério, muito escroto), mas outro ponto que me deixou um pouco desgostoso é que, apesar de ser um puta filme e não dá pra comprar com as outras versões, (é um filme moderno produzido para essa geração que conta a mesma história, fim) mas foi o visual extremamente hollywoodiano. Realmente perdeu o clima de terror (mesmo que psicológico) com a luz meio sépia, sabe quando tudo é meio cor de creme e tal. Odeio isso. Os americanos deveriam se inspirar nos produtores suíços, como no filme Let the Right One in (2008) em que todas as cenas são "cruas" e iluminadas com luz branca. Aquilo podia estar acontecendo no corredor da sua casa, aquela luz serve pra isso, americanos.
Como o esperado, os efeitos especiais nem se comprar com as maquetes movidas por cordões de náilon do filme de 76 (amo aquele filme, apenas deixando claro). Mas a cena da noite do baile foi bem arquitetada e com uma Carrie menos "teatral", que parece estar dando chiliques. E as mortes em câmera lenta deixa uns sensação perturbadora, a câmera mostrando em vários ângulos, o nariz quebrando ou o rosto de Chris se partindo contra o vidro do carro. Você se sente preso na poltrona, rezando (haha que engraçado, sqn) para que a cena continue mas ela vai e volta, te forçando a ver como aquele rostinho tão lindo e malvado foi estraçalhado. Não é um terror verdadeiro, mas te deixa desconfortável ideal para iniciantes do gênero.
Estou dando cinco (quatro e meio é quase cinco, vai) estrelas para este remake por que, mesmo com alguns elementos mal elaboradas que citei, ele conseguiu cumprir o seu papel de recontar a história nos dias atuais. Chloë é uma ótima atriz e uma aposta para o futuro (escreva isso) e a atuação de Moore enriqueceu o filme completamente, seus olhos ardiam e acreditavam no que diz enquanto falava: Vá para o armário rezar e pedir perdão, garotinha!
E eu espero que este filme possa cumprir com o que o livro se propôs. King o escreveu para duas garotas de sua turma, ridicularizadas pelos atos estranhos da mãe e a única roupa que tinha, e que tiraram a própria vida antes dos vinte anos. Imagine se você, ou o garoto ou a garota que você xinga e chama de boiola na escola, tivesse os mesmo poderes de Carrie.
Está com medo?