Vampiros, de novo
por Francisco RussoOs vampiros talvez sejam, dentre todos os seres criados pela literatura, aqueles que alcançaram maior popularidade mundo afora. Sob os mais diversos aspectos, desde os românticos criados por Stephenie Meyer para a saga Crepúsculo até os chupadores de sangue que amedrontam o público nos mais diversos filmes de terror e suspense já lançados. Consciente de que a mitologia em torno destes seres está muito bem estabelecida no inconsciente coletivo, o diretor Jim Jarmusch resolveu apostar na ambientação em seu novo filme, Amantes Eternos. Mais exatamente, em um universo cool repleto de guitarras antigas e vitrolas, pontuado ainda por roupas estilizadas. É este o grande atrativo do filme e também seu revés.
A trama gira em torno do amor secular existente entre Adam e Eve – a coincidência com o casal original não é mera coincidência -, que voltam a se encontrar após um período separados. Ele é um astro underground do rock, daqueles cuja reclusão alimenta ainda mais a paixão dos fãs. Ela é mais solta, por mais que viva também entre as sombras da noite. A paixão entre os dois norteia boa parte do longa-metragem, mas há algo além disto: uma mútua compreensão sobre quem é o outro, no sentido de aceitá-lo e amá-lo desta forma. Uma profundidade muito bem representada por Tilda Swinton e Tom Hiddleston, intérpretes dos personagens, que proporcionam um mergulho neste estado de espírito um tanto quanto hipnótico, também para o espectador.
O terceiro vértice da trama atende pela irmã de Eve (Mia Wasikowska), que prefere criar suas próprias regras. O contraste com o ritual seguido por Adam e Eve é o que dá alguma mobilidade à trama. Mas veja bem: alguma. Amantes Eternos não é um filme de fatos impactantes, apostando mais no lado sensorial do que se vê na tela. Seja através de boas sacadas como o picolé de sangue ou pelo próprio clima com o qual a história transcorre. Entretanto, de algo nenhum vampiro pode escapar: a sede por sangue. É ela que desestrutura este universo estável, provocando o conflito entre irmãs que move o longa-metragem.
Diante disso, Amantes Eternos não é um filme recomendado para quem busca ação, terror ou suspense envolvendo vampiros. Trata-se de um drama, fortemente carregado em romantismo mas sem ser meloso nem exagerado - esqueça Bella e Edward! De ritmo lento, é um filme para quem gosta de apreciar a ambientação e o clima envolvendo detalhes como a direção de arte, o figurino e a fotografia, habilmente conduzidos pelo comando de Jarmusch.