Há exatos 35 anos a disputa entre um casal pela guarda de uma criança após uma conturbada separação causou polêmica ao levar para os cinemas um tema até então considerado tabu para a época, a desagregação familiar. Kramer vs Kramer fez barulho e lançou ao estrelato ninguém menos que Meryl Streep que triunfava ao lado de Dustin Hoffman. O filme arrebatou os 4 principais prêmios no Oscar naquele ano. 35 anos depois, Pelos Olhos de Maisie não fez o mesmo barulho. Afinal, vivemos novos tempos, as relações familiares mudaram, a sociedade caminha para a compreensão em achar natural a escolha de vários casais em abrir mão da paternidade em nome da carreira profissional, vaidade, ou quem sabe seria mesmo o medo do mundo? Não importam as razões, o que diferencia o longa de 1979 para este da dupla McGehee & Siegel (do polêmico Até o Fim) é o ponto de vista. Enquanto em Kramer vs Kramer o garotinho era apenas um coadjuvante na crise do casal, Maisie é a personagem principal.
Com apenas sete anos ela assiste, ouve, observa e tenta compreender a amargura da vida adulta. Quem são seus pais, porque berram, gritam um com o outro, quem é o garçom namorado de sua mãe que lhe estende as mãos e torna-se seu fiel companheiro, quem é a garota mais jovem que namora seu pai, afinal porque quatro adultos são incapazes de criar uma criança apesar de amá-la. Aos olhos de Maisie todos parecem gostar dela mas odeiam uns aos outros e estão ocupados demais com suas vidas profissionais. Maisie não chora, não grita, não pede por companhia, tamanho desafeto poderia causar traumas na criança, mas ela está ali, tentando apenas compreender tudo ao redor. A garotinha Aprile dá um show de interpretação, com tamanha naturalidade que rouba a cena apesar de nomes de peso no elenco como a sempre eficiente Moore. Um filme para ver, refletir e reavaliar nossos relacionamentos. Afinal, ninguém tem que pagar por nossas escolhas.