Fãs de Verdade, Elenco de Mentira
por Francisco RussoA cultura do loser está entranhada no american way of life. Eles estão em toda escola e faculdade, sem conseguirem atingir o ideal de beleza e popularidade esperado – e, em certos casos, cobiçado –, o que faz com que às vezes sejam vítimas de bullying. Glee, a série, explora exatamente este tipo de pessoa, usando a música como válvula de escape e elo de união entre seus personagens. Deu certo, não apenas nos índices de audiência como na criação de um verdadeiro culto em torno da série. Os até então excluídos se reconheceram nos personagens e passaram a idolatrá-los, transformando o famoso L, símbolo característico do loser, em motivo de orgulho. Glee 3D – O Filme consegue capturar este espírito ao dar voz aos fãs e até mesmo dramatizar situações da vida de alguns deles, onde o preconceito poderia falar mais alto. O problema é que o elenco, por incrível que pareça, aparenta não se importar com nada disto.
É imensa a quantidade de comentários risíveis vindos dos protagonistas de Glee. De “a mulherada se amarra neste cabelo” até “sou popular com as mães”, passando pela torcida para que seus seios fiquem em destaque quando vistos em 3D. Há até uma declaração provocadora de que é melhor cantora do que outra integrante do elenco, no intuito de criar alguma polêmica que gere repercussão. Tudo para soar na moda, popular, fazer tipo com o público. Tudo aquilo que o próprio Glee não prega. Tamanha artificialidade faz com que os atores aparentem ser meros bonecos, que até cantam e dançam bem, mas não tem sentimentos nem voz própria. A única exceção fica por conta de Lea Michele, na bela cena em que se emociona ao saber que Barbra Streisand assistirá o show. Só.
De resto, trata-se de um espetáculo de som e luzes que chama a atenção pela grandiosidade. Por mais que seja o apuro técnico típico do show business americano, impressiona em certos momentos. Uma saraivada de sucessos pop, como “I Want to Hold Your Hand” (Beatles), “Somebody to Love” (Queen), “I’m a Slave 4 You” (Britney Spears) e “Born This Way” (Lady Gaga), é entregue ao público. O destaque fica por conta dos belos solos de Lea Michele e Amber Riley, especialmente pela qualidade da voz e interpretação, e para a breve participação de Gwyneth Paltrow, que segura bem a difícil tarefa de se apresentar como cantora.
Glee 3D – O Filme ganha força quando deixa de lado a histeria e os bastidores do show que dá nome ao filme para focar na vida pessoal de alguns fãs. Histórias como a da cheerleader anã, que representam bem o espírito o qual a série defende, de dar voz e espaço aos excluídos para que possam se aceitar como realmente são, sem preconceitos ou ressentimentos. Por mais que a dramatização por vezes soe falsa, é a ideia por trás dela que realmente importa. Destaque para a apresentação solo do mini-cantor, hilária, e um aviso: não saia da sala assim que os créditos surgirem na tela. Ainda há mais um número musical a ser visto. Feito para os fãs, Glee 3D mantém o interesse graças a eles.