MAIS DO MESMO
por Roberto CunhaEssa onda de filmes de terror no estilo câmera na mão e uma levada de documentário parece não dar sinais de cansaço. Se por um lado a questão do baixo orçamento com alto retorno parece ser mera jogada dos estúdios para lotar o cofre de verdinhas, volta e meia alguns títulos pegam o público e a critica, como aconteceu com A Bruxa de Blair (1999) ou [REC] (2007), por exemplo.
Produzido pela mesmo cara da série Atividade Paranormal e por Lorenzo di Bonaventura (franquia Transformers), Filha do Mal custou cerca de US$ 1 milhão, não tem atores conhecidos e faturou US$ 33 milhões na estreia nos Estados Unidos. Com isso, deixou de lado o "pretinho básico" (a escuridão) tão comum nessas produções e os holofotes rapidamente se acenderam para a desconhecida brasileira Fernanda Andrade, protagonista deste hit de janeiro, que já vendeu mais de US$ 55 milhões internacionalmente. Mas aí você pergunta: É bom? A resposta vai depender única e exclusivamente do seu ponto de vista e do que é medo para você. Os que procuram cenas tensas, como aconteceu em Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado (2004), podem se decepcionar.
Logo no início, uma mensagem avisa que o Vaticano não aprova nada. A abertura é boa, com a ligação para a polícia, assim como as cenas de notíciário na TV e a câmera da perícia filmando o local. Rola até um clima. Em seguida, a jovem Isabella (Fernanda Andrade) conta para você que vai investigar, 20 anos depois, o que teria feito sua mãe, Maria Rossi, matar três pessoas durante um exorcismo. Viaja para Roma e segue filmando tudo, desde uma aula sobre o tema no Vaticano até um ritual verdadeiro, tendo em vista que os padres rebeldes Ben (Simon Quarterman) e David (Evan Helmuth) a convencem de que a prática é melhor do que a teoria. O problema é que depois da visita a mãe internada em um sanatório, eles descobrem que a possessão dela é múltipla e se um demônio incomoda muita gente, quatro demônios incomodam muito mais.
O roteiro do diretor William Brent Bell, que repetiu a parceria com Matthew Peterman (Stay Alive - Jogo Mortal) não é exatamente ruim. Envolve o nome "verdadeiro" de dois missionários do inferno (Berith e Asbeel), mas a veracidade que tentam passar ao longo da trama não tem a força da água benta e nem o sabor do vinho. Incomoda a facilidade com que as coisas acontecem e a tranquilidade da protagonista e seu camera man diante de situações - no mínimo - assustadoras pra qualquer um, não deixam que você pegue o espírito da coisa.
Com a direção frouxa, essas falhas "possuem" o filme, dificultando qualquer geração de envolvimento. E é estranho porque o uso da câmera em primeira pessoa, exige uma certa dose de "nervosismo contagiante". A cruz da questão é que faltam novidades para pegar o espectador mais escolado, sobrando para aqueles menos exigentes (ou menos experientes) alguns poucos sustos, mas nada especial, dando a sensação de se estar diante de mais do mesmo. Entre as cenas, algumas têm impacto apenas mediano, como a do batizado e outras mais comuns, como corpos dobrados e/ou com chagas.
Entre os destaques, Susan Crowley convincente como mãe possuída e a crítica bem humorada a igreja católica, com padrecos falando da hipocrisia reinante no alto clero e também através do "coisa ruim" cutucando com uma frase sacana e um xingamento, nas feridas recentes envolvendo padres assanhados. O fim pode chocar muita gente, mas cuidado porque pode ser para o bem e para o mal. Cabe a você escolher o seu lado. Após os silenciosos créditos finais, uma mensagem volta a falar sobre o caso Rossi e estimula uma visita ao site The Rossi Files com cenas "reais" de outros exorcismos. A porta está aberta, a escolha é sua.