Filmes de guerra não são um território comum para cineastas mulheres. Mas mesmo sendo um gênero tão violento, hostil e cruel um dos diretores atuais mais talentosos para com esse gênero é uma mulher: Kathryn Bigelow. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor diretor, isso com o seu filme Guerra ao Terror, aclamado pela crítica, mas desprezado pelo público (o filme teve a catastrófica bilheteria de 15 milhões!). Mas com esse seu mais novo trabalho a Kathryn agradou aos dois lados, sendo que o filme vem papando vários prêmios por aí e ainda já passou dos 100 milhões de dólares nas bilheterias, uma boa marca para um filme de seu porte.
Talvez o maior motivo de toda essa aclamação seja o tema nele tratado, a caça ao terrorista odiado pelos americanos: Osama bin Laden. Todos ficaram extremamente curiosos para saber como foi a operação que resultou na morte dele, já que quando ele morreu diversos boatos e hipóteses sobre como foi a sua morte foram divulgados, mas poucos deles eram dignos de confiança. Mas o personagem principal não é o terrorista bin Laden, mas sim um dos principais personagens envolvidos por trás do plano para encontra-lo; melhor dizendo, “uma das principais personagens”, já que é a Maya (Jessica Chastain) a principal pessoa por trás de toda essa caça. O roteiro em si é simplesmente isso, a determinação de Maya para encontrar e acabar com o Osama bin Laden, mas o roteiro ganha maior força nos detalhes de toda essa luta e também na sua ótima estruturação.
Mas para equilibrar com esse roteiro simples e normal vem a direção impactante e muito bem conduzida da Kathryn Bigelow. Se em Guerra ao Terror ela se mostrou uma ótima diretora, em A Hora Mais Escura ela se consagrou de vez no grupo dos diretores mais influentes atualmente. Ela não esconde de ninguém cenas pesadas, tiroteios incessantes, explosões impactantes e também os sentimentos humanos. Mas ela faz tudo isso com naturalidade, sem nenhum tipo de violência exagerada, apenas mostrando a verdade, do jeitinho que (supostamente) aconteceu. A Kathryn também recebe o mérito de aproveitar o máximo possível de todos os seus atores, mesmo que para muitos deles o máximo ainda seja pouco. Esse não é o caso da Jessica Chastain, que interpreta a Maya com determinação, força e com sentimentos fortes, mostrados nas cenas corretas (aquelas cenas inicias onde ela presencia uma sessão de tortura se torna ainda melhor devido a sua atuação, que equilibra muito bem sua postura forte que ela tem que ter no trabalho e seus sentimentos piedosos para com o torturado). O poder que ela tem em sua voz e em suas expressões faciais fazem com que ela seja totalmente convincente no filme inteiro, se destacando completamente do restante do elenco, que não está espetacular, mas também não deixa a desejar.
Um questionamento que nós nos fazemos depois que o filme acaba é: será que a caça ao bin Laden foi exatamente daquele jeito? Todo mundo sabe que o governo americano exerce suposto poder sobre tudo e todos por lá, então porque eles não poderiam muito facilmente modificar os fatos reais para que aparecesse na tela uma história mais patriótica e que é digna de orgulho para os americanos? Esse é apenas um detalhe do filme, que mesmo se fosse deturpado e irreal ainda teria o seu valor devido à sua qualidade artística.
Realmente não há momentos emocionantes no decorrer do filme, mas há sim aquelas cenas que prendem a nossa atenção e nos deixa vidrados no filme, fazendo com que prestemos atenção em todo pequeno detalhe que aparece. Mas apenas ver um desempenho fantástico da Jessica Chastain e a performance perfeita da Kathryn Bigelow na direção fazem com que o filme tenha o seu valor, merecendo ser assistido por todo bom admirador de filmes de guerra ou por aqueles que querem saber o que “realmente” aconteceu na morte do terrível terrorista Osama bin Laden.