A captura de Osama bin Laden foi uma marco na história recente norte-americana, ou não fosse este uma das pessoas mais procuradas das agências de segurança norte-americanas. “Zero Dark Thirty”, o novo filme da premiada realizadora Kathryn Bigelow, dramatiza os eventos que conduziram à captura de Osama bin Laden, com episódios baseados em factos verídicos, alguma ficção e alguma informação confidencial, que a ser verdade deve estar a causar algumas dores de cabeça a muita gente. Um pouco à imagem de “The Hurt Locker”, Kathryn Bigelow, revela uma vez mais toda a sua habilidade em chegar eficazmente ao público norte-americano com uma história do passado recente do país. Embora sejam filmes completamente diferentes é perceptível a crueza e o sentido de realismo como Kathryn Bigelow filma toda a captura de Osama bin Laden, desde o dia 11 de Setembro de 2001 até à captura do terrorista, aspectos estes que já lhe haviam rendido muitos louvores em 2008.
Kathryn Bigelow leva-nos a acompanhar a demorada e perigosa jornada de uma agente da CIA até à noite em que finalmente o inimigo número um dos Estados Unidos da América é capturado. O filme inicia-se com os aterrorizantes eventos ocorridos no trágico dia 11 de Setembro de 2001, no sentido de contextualizar a caça ao homem que ocupa as duas horas e meia do filme. Após esta breve introdução, Maya (Jessica Chastain) entra em cena. Maya é uma jovem agente da CIA que rapidamente se vê no centro da acção, onde depressa integra a equipa de investigação que trabalha em território inimigo com o objectivo de descobrir o paradeiro do líder da Al-Qaeda e dos seus principais aliados. Os primeiros tempos revelam-se difíceis e nenhuma pista parece levar a mais e melhores informações. Enquanto a obsessão de Maya cresce e as pistas continuam escassas e ineficazes, ela consegue descobrir uma casa no Paquistão que poderá ocultar o mais precioso dos tesouros, Osama bin Laden. O final da história já todos nós sabemos qual é.
Bigelow demonstrou uma vez mais que se sente completamente à vontade neste tipo de cenários, conseguindo comprovar todos os seus dotes de cineasta, criando, com muito realismo, um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos. “Zero Dark Thirty” é um filme que promete deixar o espectador colado ao ecrã, nunca chega a ser chato nem moroso, além da sua duração excessiva e de um visionamento algo difícil e ao mesmo tempo pesado, este novo filme de Bigelow está muito bem realizado, assumindo-se como um dos principais candidatos à estatueta mais desejada do ano. Outro aspecto de louvar neste filme é o facto de Kathryn Bigelow não ter medo de espetar a faca na própria América, afastando-se do moralismo e do patriotismo para expor os procedimentos reais de uma nação que consegue ser tão bárbara como qualquer outra em tempos de guerra. Talvez por isso tenha ficado de fora da corrida ao Óscar de melhor realizador e talvez por isso o filme esteja a ser alvo de alguns ataques ferozes por parte do público norte-americano.
Sean Penn recentemente disse que Jessica Chastain é como um Stradivarius, e talvez seja mesmo este o elogio que Jessica merece pelo que fez neste filme. A sua interpretação foi tão real, tão “vivida” que consegue surpreender tudo e todos com a emotividade que atribuiu à sua personagem, uma mulher aparentemente fria, que dedica a sua vida para a causa que defende. Esta é ,sem sombra de dúvidas, uma das melhores interpretações do ano, sendo Jessica Chastain uma das grandes favoritas à conquista do Óscar de melhor actriz principal no próximo dia 24 de Fevereiro.
Por tudo isto, “Zero Dark Thirty” é um filme de visionamento obrigatório para quem desejar conhecer um pouco melhor o mundo em que vivemos, despindo-se de preconceitos e de patriotismos para ensaiar um estudo sobre a obsessão levada ao extremo e suas naturais consequências.