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    As Melhores Coisas do Mundo
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    As Melhores Coisas do Mundo

    Ser Adolescente

    por Francisco Russo

    Todo mundo já foi, é ou será adolescente. É uma fase da vida feita de transformações, não apenas hormonais mas especialmente sociais. A personalidade e o caráter se estabelecem, as amizades afloram, os amores despertam, o corpo fala. Com tanto acontecendo simultaneamente, não é à toa que seja também um período muitas vezes problemático. Os adultos não têm mais paciência, as crianças não entendem. A sensação de incompreensão é grande e muitas vezes provoca revolta.

    O cinema por diversas vezes tentou enfocar a adolescência, geralmente explorando estereótipos. Hollywood todo ano despeja dezenas de filmes do tipo, seguindo a linha American Pie. A adolescência de forma honesta, poucos conseguem. John Hughes foi um deles, através de clássicos dos anos 80 como Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado e Mulher Nota 1000. Em pleno século XXI, Laís Bodanzky repete o feito. Com um molho tipicamente brasileiro.

    Para tanto, a diretora foi fundo nas pesquisas. Rodou diversas escolas, entrevistou dezenas de alunos, quis conhecer sua visão de mundo. O que gostam, o que fazem, o que pensam. O resultado de tamanha busca está em cada minuto de As Melhores Coisas do Mundo. Há uma autenticidade nítida, onde os anseios e conflitos da adolescência pulsam de forma realista. Esta preocupação dá um charme a mais ao filme e é seu grande diferencial. Questões como a perda da virgindade, o lado musical, os preconceitos escolares, a vida em grupo e a preocupação ao chegar em alguém estão presentes, mas jamais de forma caricata. Trata-se da vida como ela é, dentro do universo adolescente. O que permite que o espectador reconheça e se identifique com os personagens, seja por já ter vivido ou por viver questões do tipo.

    Além da adolescência, As Melhores Coisas do Mundo lida com a difícil questão do preconceito. Dentro e fora da escola, como reflexo da própria sociedade atual. A homossexualidade é colocada em primeiro plano, saindo do armário e surgindo de forma escancarada. Sintoma do século XXI transposto para o filme, o que também passa a sensação de contemporaneidade. Se John Hughes soube retratar muito bem o adolescente no ambiente da década de 80, Laís Bodanzky trouxe para a tela o mundo atual. Incluindo a tecnologia e as consequências por ela provocadas na convivência diária. As fotos espalhadas pelo celular e o blog da Dri Novaes são bons exemplos.

    Há também a bela caracterização de Denise Fraga, como a mãe do protagonista Mano. Trata-se da personagem mais complexa da história, por ter que lidar com a solidão, a perda, o desprezo e ainda por cima se manter firme para cuidar dos filhos. Sua dor é visível a cada instante em que Denise aparece em cena. O filme conta ainda com um delicioso lado musical, com uma bela trilha sonora e ainda a inesquecível "Something", dos Beatles. Apesar de um certo exagero na execução da música, ela pontua momentos marcantes na reta final da história.

    As Melhores Coisas do Mundo">O filme conta ainda com um delicioso lado musical, com uma bela trilha sonora e ainda a inesquecível "Something", dos Beatles. Apesar de um certo exagero na execução da música, ela pontua momentos marcantes na reta final da história.

    As Melhores Coisas do Mundo é uma das raras tentativas do cinema nacional em retratar a adolescência de forma justa. Resultado de um trabalho meticuloso de Laís Bodanzky, que se destaca também na condução do ritmo da história. Dependendo da idade que você tenha, é um filme para relembrar dos bons momentos vividos na adolescência ou para reconhecer seu habitat nas telas de cinema. Independente do motivo, é um filme que merece ser descoberto.

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