The Angel´s Share, 2012 ( vencedor do Prêmio do Júri em Cannes), título doce, convidativo, fisgou-me de imediato.
Comedidamente comédia. Roteiro, direção, fotografia nada excepcionais. Enredo despretensioso, atores medianos. Ao contrário das películas hollywodianas, nada maniqueísta. Mas assim como aquelas, um tanto piegas. Mas gostosinho, com belos flashs de inspiração.
A parte dos anjos é aquela evaporação do uísque (2%) nos barris de carvalho em que são depositados para envelhecer. Bonita alusão: os anjos são recompensados pelo próprio uísque pelos cuidados que a eles dedicam. Sim, sem anjos nas proximidades dos barris, como imaginar que o uísque se torne o que sabe-se que é? Uísque, claro, é coisa dos deuses. Afinal, estamos na Escócia, Glasgow especificamente.
O que pode acontecer quando um barril de muitíssimos anos contendo um fino uísque é encontrado, indo a leilão (que termina com uma oferta de mais de um milhão de libras)? E se uma trupe de delinquentes leves, obrigados a trabalhos comunitários como penas pelos seus delitos recentes, ensinadas à degustação de uísque pelo seu tutor sensível e solidário, se envolver no leilão de uma maneira inusitada? Este o enredo, cujo pivô é o casal formado pelo pobretão e delinquente Robbie (Paul Brannigan) e pela riquinha mimada, mas decidida, Leonie (Siobhan Reilly), que têm um filho e a oposição da família dela para ficarem juntos. Ou seja, Romeu e Julieta regados a uísque de qualidade máxima. O que mais pode querer um anglo-saxão?
Final feliz para o casal, para cada um dos delinquentes regenerados (?) da trupe, para Thadeus (Roger Allam), o caçador de raridades etílicas escocesas, mas especialmente para o régia e sensibilissimamente recompensado Harry (John Henshaw). Tudo vale a pena, mesmo quando a garrafa é pequena: uma para beber, uma para vender, uma para presentear um amigo (quem assistir, entenderá).