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    A Parte dos Anjos
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Parte dos Anjos

    Na terra do uísque

    por Francisco Russo

    Ken Loach é daqueles diretores idealistas, que acreditam que através do cinema seja possível mudar o mundo – ou ao menos denunciar os absurdos do dia a dia, como fez ao lembrar os americanos que eles próprios já invadiram um país na data de 11 de setembro, no excelente curta-metragem por ele dirigido no filme coletivo 11 de Setembro, ou ao retratar a luta pelos direitos trabalhistas em Pão e Rosas. Loach procura inserir em seus filmes, mesmo os mais leves, pílulas com mensagens esquerdistas, onde é feita a defesa do ser humano perante o sistema imposto pelo capitalismo. É exatamente o que acontece com A Parte dos Anjos, seu novo trabalho.

    Desta vez o diretor situa a história em plena Escócia, terra do kilt e do uísque. É lá que o jovem Robbie (Paul Brannigan) consegue escapar da prisão, graças principalmente ao fato de que sua namorada está grávida. Precisando dar um jeito na vida, ele tenta encontrar emprego enquanto presta serviços comunitários. Não consegue, graças à crise econômica enfrentada pelo país – olha o diretor aproveitando para inserir suas mensagens ao longo da história! É quando, em uma viagem feita por Robbie e outros companheiros de serviços comunitários, vem a grande descoberta: ele tem um olfato apuradíssimo para uísques. E irá usá-lo para sair desta situação.

    Leve e descontraído, A Parte dos Anjos aposta firme no carisma do grupo de amigos que não sabe bem o que fazer da vida, liderados por Robbie. Em meio a tiradas espirituosas e bastante engraçadas surge um plano engenhoso, que explora de forma peculiar uma história bem particular do universo de quem fabrica uísque. É a tal "parte dos anjos" do título, termo dado aos 2% do barril que são perdidos devido à evaporação do álcool ao longo dos anos. Ou seja, trata-se da perda já esperada pelos fabricantes quando produzem a bebida, algo que será usado por Robbie e sua turma ao descobrirem um uísque de qualidade excepcional e, que, é claro, vale muito no mercado.

    A Parte dos Anjos está longe de ser um dos melhores trabalhos de Ken Loach, mas com certeza é um dos mais despojados. A impressão que fica é que ele simplesmente relaxou ao rodar esta história, assim como aconteceu com À Procura de Eric – seria uma espécie de pausa para respirar em meio a tantos filmes de temática mais pesada. Apesar do roteiro ser de certa forma simplório e previsível, é um filme que diverte sem apelar para o vulgar e que conta com um elenco coeso e afinado com o espírito proposto. Bom filme.

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