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    As Sessões
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    As Sessões

    Ser completo

    por Francisco Russo

    Qual é a importância do sexo para a formação de uma pessoa? Esta questão é a aflição maior de Mark O'Brien, poeta e escritor que desde a infância está preso a um imenso aparelho, apelidado de "pulmão de aço", devido à poliomielite. Sem poder mexer os músculos do corpo, com exceção da cabeça, ele leva uma vida repleta de limitações, entre elas a de sair de sua própria casa – seus pulmões aguentariam trabalhar sozinhos apenas por cerca de três horas. Mark leva a vida com um certo humor irônico, sem reclamar de sua situação. Entretanto, por jamais ter tido uma experiência sexual, ele se sente incompleto. É a partir deste ponto que o diretor Ben Lewin desenvolve uma história delicada, não apenas pelo modo como é desenvolvida mas também por abordar questões que, ainda hoje, são consideradas tabus.

    Em sua busca por tornar-se completo, Mark enfrenta uma série de questões – não apenas físicas, mas especialmente psicológicas. Extremamente religioso, ele busca com o padre Brendan, seu amigo pessoal, conselhos sobre uma proposta ousada: ter sessões com uma especialista em exercícios de consciência corporal, que irá iniciá-lo no sexo. Há ainda o nervosismo natural diante da situação, afinal de contas Mark jamais esteve com uma mulher nua. Neste sentido, ele é como qualquer pessoa que está iniciando a vida sexual, com temores e ansiedades naturais. Com a diferença que há todos os problemas físicos decorrentes da doença que sofre, que o impedem de ter pleno controle sobre a situação.

    Tendo esta complexa situação como pano de fundo, As Sessões surpreende pela naturalidade com que cada fase é apresentada e superada. Por mais que haja temas difíceis, eles são resolvidos a partir de uma humanidade impressionante dos envolvidos, que em vários momentos deixam de lado os dogmas impostos pela vida em sociedade ou pela religião, no caso do padre. O bem estar de Mark é o mais importante e este é o foco, sempre. Tal naturalidade reflete também no modo como o próprio sexo é tratado, com cenas de nudez em que não há alguma glorificação do corpo. Ainda neste sentido, chama a atenção a devoção de Helen Hunt ao filme. Por mais que ela não tenha uma grande atuação, sua coragem em encarar sem receio uma personagem polêmica e que exige cenas de nudez frontal merece destaque.

    Em relação às atuações, o destaque fica por conta de John Hawkes e William H. Macy. Apesar de impressionar pela rigidez corporal imposta pelo personagem, Hawkes brilha realmente é quando atua com o olhar. É através dele que revela seu temor com as sessões do título e o passo a passo da descoberta do sexo, mostrando através do brilho o quão maravilhado fica com a situação. Já Macy tem em mãos um personagem saboroso, dividido entre seguir as regras previstas pela igreja e o bom senso para ajudar um amigo.

    As Sessões é um filme delicado que conquista o espectador pela persistência de seu personagem principal. Simpático e irônico, Mark é daquelas pessoas das quais é fácil gostar. O problema maior do filme é justamente sua simplicidade, que impede que a trama se desenvolva muito. Ainda assim, traz importantes lições sobre não se prender a regras impostas se elas viram um empecilho para que alguém possa se sentir, de fato, humano.

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