Dura realidade
por Lucas SalgadoCinéfilos de carteirinha já perceberam uma triste tendência no circuito de salas de cinema no Brasil. Os cinemas de rua são cada vez mais raros e, infelizmente, é muito constante nos depararmos com uma sala pela qual temos carinho e frequentamos ser fechada. La Vida Útil está inserido nesta conjuntura. O personagem principal Jorge (Jorge Jellinek) trabalha há 25 anos na Cinemateca de Montevidéu e recebe a notícia de que a fundação que apoiava o local não irá mais ajudar financeiramente, obrigando ao fechamento.
O longa agrada nos momentos em que reforça sua paixão pela cinema, embora seja cru no retrato da realidade da sala, sempre vazia.
Rodado em preto e branco, La Vida Útil tem como característica principal sua simplicidade. Conta com poucos atores, tomadas paradas e cenários vazios, muitas vezes retratados com planos abertos pela fotografia, o que aumenta a sensação de falta de preenchimento. O filme é econômico até em sua duração. São apenas 70 minutos.
Apesar de curta, o longa peca pela falta de ritmo. Por mais que seja clara a opção por um tom mais cadenciado, até mesmo nostálgico, é notória a sensação de que nada acontece.
A trama busca estudar o choque de um homem que trabalha num mesmo local há vários anos e de repente deve aceitar que sua vida seguirá um rumo diferente.
Por mais que seja interessante o efeito da quebra da rotina em Jorge, a produção não se aprofunda demasiadamente no personagem, que muitas vezes tem a companhia de Paola (Paola Venditto) e Martinez (Manuel Martinez Carril).
Escrito e dirigido por Federico Veiroj, La Vida Útil não é necessariamente pessimista, mas insere o cinema no cruel mundo contemporâneo, como acontece do lado de fora da tela.
Como O Artista, busca um diálogo com o cinema antigo, mas o faz de forma mais exclusiva, não exaltando o passado, mas mostrando o presente. É um filme com bastante sentimento, mas que tem dificuldades claras de passa-los para o espectador.