Bonito e vazio
por Lucas SalgadoBeleza Adormecida conta a história de uma jovem que ingressa em um misterioso trabalho envolvendo fetiche e desejo. A intenção da estreante Julia Leigh parece ser uma só: fazer uma espécie de "A Bela da Tarde do século XXI". Não há problema algum em ser pretencioso, mas é preciso tomar alguns cuidados. Óbvio que não podemos exigir que o longa seja tão bom quando o clássico de 1967 dirigido por Luis Buñuel e estrelado por Catherine Deneuve, mas é impossível não sair com a impressão de que a pretensão da produção não foi atingida.
O filme é bem sucedido na escolha do título – uma brincadeira óbvia com o conto de fadas A Bela Adormecida – e em suas opções estéticas. Os cenários, os figurinos, o desenho de produção e a fotografia impressionam e conseguem criar um ambiente atraente, embora frio, para o espectador.
Emily Browning chama a atenção na pele da protagonista Lucy, principalmente em razão de sua beleza e juventude. Ainda impressiona a coragem da atriz, que em nada lembra a menina vista em Desventuras em Série e também foge do fetichismo raso visto em Sucker Punch - Mundo Surreal. O problema é que ela tem uma boa atuação em um filme vazio e superficial. O fato de Browning ainda não ser uma cara totalmente conhecida em Hollywood colabora com o filme. Antes dela, Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) estava cotada, mas imagino que a diretora teria maiores problemas para convencer uma intérprete mais conhecida a se entregar de tal forma ao papel.
Como podem ver, tudo o que diz respeito a aparência – dos cenários à protagonista – é belo e merece aplausos. Acontece que o roteiro não diz nada, gerando uma obra com estilo, mas sem nenhum conteúdo. Curiosamente, a diretora Julia Leigh pediu para que Emily Browning assistisse Anticristo, de Lars von Trier, para conferir a performance de Charlotte Gainsbourg. Mais uma vez mostra-se presente a pretensão da obra e da autora, que almejou algo tão alto que acabou tombando da mesma altura.
Escrito por Leigh, o roteiro é um apanhado de situações sem nenhuma ligação convincente ou interessante. A nova empregadora de Lucy é interpretada por Rachael Blake, que constrói bem o mistério da personagem, mas também não é muito bem explorada. Muitas cenas estão lá apenas para reforçar a liberdade sexual da protagonista. Para isso, o filme abusa de momentos em que ela, sem aparente, razão faz sexo com a primeira pessoa que passa pela sua frente. Outras sequências dispensáveis são aquelas em que está presente o casal de namorados que dividem o apartamento com Lucy. Não há nada de relevante que justifique a presença de tais personagens na trama, que estão lá apenas para ratificar as dificuldades financeiras da personagem central.