Um pouco de responsabilidade para Peter Parker
Como fã e colecionador de quadrinhos, não consigo e nunca vou conseguir analisar um filme de super-herói apenas como um filme, desprezando as histórias dos gibis. É claro que os filmes são adaptações, mas o peso do roteiro recai justamente sobre o público-alvo, que são os fãs do herói em questão. Felizmente, não preciso me preocupar com isso para falar sobre “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, porque o filme mostra, na telona, a exata pegada dos quadrinhos e, finalmente, um pouco da responsabilidade que veio junto com os poderes de Peter.
Dirigido por Marc Webb (também diretor do primeiro filme da nova franquia do Homem-Aranha) e estrelado por Andrew Garfield (Peter Parker / Homem-Aranha), Emma Stone (Gwen Stacy), Jamie Foxx (Max Dillon / Electro) Dane DeHaan (Harry Osborn / Duende Verde), o filme teve seu orçamento em torno de US$ 210 milhões.
Mesmo sendo “mais barato” que seu antecessor, que custou US$ 230 milhões, o segundo filme supera o primeiro em todos os aspectos. Aliás, não gostei do primeiro filme, mas estou escrevendo sobre o segundo e desse, sim, eu gostei demais.
EHA2 inicia contando o que aconteceu aos pais de Peter. A subtrama abordada superficialmente no primeiro filme ganha sequência no novo longa, porém, também de maneira superficial, mas que deixa pontas soltas para mais continuações. Voltando a história principal, Peter Parker divide sua vida entre o tempo sendo Homem-Aranha e seu relacionamento com Gwen Stacy. O relacionamento, aliás, é o que revela o conflito interno do herói. Antes de morrer, no final do primeiro filme, o Capitão Stacy, pai de Gwen, pede para que Peter fique longe da garota.
A primeira cena de ação mostra claramente a influência na versão ultimate dos quadrinhos com um Homem-Aranha no traje tradicional (incrível, aliás) jovem e piadista. Andrew Garfield, que não me passou nenhuma simpatia no primeiro filme, me convenceu dessa vez. O herói, enfim, fez valer a alcunha de “amigão da vizinhança”, com cenas hilárias em que vemos o Aranha salvando um menininho de valentões e fazendo compras resfriado.
Emma Stone está brilhante. No entanto, a química do casal bate na trave e não convence. O vilão Max Dillon / Electro é bem apresentando, mas tem sua atuação um tanto forçada no início. Mesmo assim, é possível simpatizar e até ter pena do vilão, que após a transformação é muito bem retratado. São interessantíssimos os efeitos sonoros quando Electro aparece. Antes mesmo da transformação, nas vezes em que Max Dillon está em cena, ruídos ecoam junto a trilha sonora de Hans Zimmer (também autor das trilhas dos heróis Batman e Superman).
As cenas de ação são incrivelmente bem feitas. Os movimentos do Homem-Aranha fluem quase como uma animação, e, aliados à fotografia do filme, dão a sensação de que se está folheando um gibi do herói do início da década de 2000. Muita cor e ambientes ensolarados são a marca do diretor de fotografia Dan Mindel.
Os roteiristas Alex Kurtzman, Jeff Pinkner e Roberto Orci acertam na história, mas quase ultrapassam a linha do “compreensível” com as subtramas. São várias histórias de vários personagens ao mesmo tempo, uma porrada de informação para o espectador, mas, no final, não chegam a deixar ninguém tonto. O aparecimento de Harry Osborn é o estopim para as subtramas. Norman Osborn, pai de Harry, acometido de uma doença fatal, faz uma ponta no filme, alertando o filho que seu problema é hereditário. Assim, Harry busca a cura para sua doença e acaba se transformando no Duende Verde. Se fôssemos pelos quadrinhos, Harry seria o Duende Macabro, e Norman o Duende Verde, mas como o chefão da Oscorp não teve papel fundamental na trama, o título passa para seu filho. Dane DeHaan nos traz um Harry mimado e reprimido, que recebe na mão uma empresa de bilhões de dólares. Um personagem interessante que vai render na continuação.
O final do filme é apoteótico, com uma estonteante batalha final com Electro. É também no desfecho que o herói tem, enfim, sua efetiva lição de responsabilidade. No primeiro filme, tio Ben, embora tenha abordado o assunto, não citou a clássica frase: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, mas agora Peter teve a prova de que ser o Homem-Aranha tem seu preço. A lição vai além da máxima de o herói não poder ficar com a mocinha por querer protegê-la, abordada no primeiro filme e também na trilogia anterior. Dessa vez, o Homem-Aranha realmente sente o peso de sua escolha.
“O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” é a melhor adaptação do universo do Homem-Aranha para os cinemas justamente por trazer mais dos quadrinhos para a tela. Os fãs mais fervorosos, assim como eu, ainda ficaram com a angustiante ansiedade para outra continuação. É um filme completo, divertido e empolgante, como as melhores histórias em quadrinhos do escalador de paredes.