Idade é o que menos importa
Assisti a um filme nesse fim de semana chamado “Liberal Arts”, de 2012, desses fraquinhos, que até o meio é legal, mas depois vai se perdendo e não se sustenta. Na história, um homem de 35 anos, sem inspiração por seu trabalho, retorna à sua faculdade para um jantar, a convite de seu ex-professor. Lá, ele se depara com a nostalgia daqueles tempos e conhece uma estudante de 19 anos, linda, precoce e que desperta nele um sentimento diferente e arrebatador.
O drama, meio comédia romântica, deveria ser desses lindinhos, mas não. O cara meio que pira com a diferença de idade entre eles, não tira a virgindade da menina, a magoa feio e ainda deixa escapar aquilo que já estava sendo uma inesquecível história de amor. Em certo momento do filme, ele faz as contas, do tipo: “Tenho 35, ela 19. Quando estiver com 50, ela estará com 34. Eu com 70, ela com 54”. Tudo bem, duvido que qualquer um de nós, em qualquer relacionamento, atual ou passado, já não fez e refez essas contas. É nítida e rotineira a nossa preocupação com o futuro, e como e com quem será que chegaremos lá... Mas se tem um grande defeito que não deve predominar nesse momento é a covardia.
Se, por ironia desse fanfarrão chamado destino, encontramos uma pessoa anos mais nova, ou anos mais velha, e, com ela, vemos um autorretrato se formar, a cumplicidade bater e cada afinidade se moldar, por que vou brecar esse sentimento? Medo de quê?! Insegurança pra quê?! É claro que buscamos uma sintonia mágica, um lance ideal com alguém da nossa idade, para que possamos olhar para décadas passadas e relembrar tudo o que foi vivido na mesma época, num equilíbrio mais do que real, daqueles surreais. Mas esse equilíbrio pode vir de onde a gente menos espera. Num relacionamento entre duas pessoas de idades bem distintas, o que importa e encanta é a troca. Um chega com a energia, o outro vem com a experiência. Um aparece com a emoção de se viver algo tão lindo, o outro com a razão de segurar algo tão especial. Um surge com a mente escancarada, o outro com ela entreaberta, pedindo para que ela nunca se feche por completo. Os dois lados são essenciais. E é justamente isso que dá sentido à vida...
Não podemos controlar nossos sentimentos. Te garanto que, se o filme fosse baseado em uma história real e fossem entrevistar o protagonista hoje, o questionando sobre aquele amor que ele deixou escapar só porque ela era bem mais nova, ele teria algo guardado no coração, intitulado de arrependimento, e que não poderia fazer absolutamente mais nada a respeito. Vivemos uma vez só. Várias pessoas passam como flechas em nossas vidas. Umas passam longe, outras vêm de raspão, mas poucas são certeiras e atravessam o peito, num sentimento puro, verdadeiro, inigualável. Não dá pra desperdiçar essa pontaria toda só porque o tempo de vida de uma é diferente de outra. Se o cupido cansar, você vai acabar é sozinho.