Sem sombra de dúvidas há 2 escolhas acertadas na produção de Capitão Phillips: Tom Hanks no papel principal, e o diretor Greengrass (dos 3 primeiros filmes da série Bourne). Após seu lançamento, muito foi divulgado sobre a opinião da tripulação real da embarcação que discordava com a imagem de herói com que foi retratado o Capitão Richard Phillips. É difícil saber o quanto o filme foi fiel aos fatos, e quanto foi honesto o Cap. Richard ao escrever o livro em que o filme se baseia. No final das contas, isto não tem a menor importância, além do que não há absolutamente este endeusamento da personagem principal do filme, que é retratado como um sujeito comum tentando lidar da melhor maneira possível com uma situação para a qual não está preparado.
O diretor Paul Greengrass mantém seu estilo e vigor narrativo, o que significa dizer que em seus filmes não há espaço ou tempo para "enrolação". Há um diálogo meio deslocado e desnecessário entre o Capitão e sua esposa, quando ele está indo a caminho de embarcar no navio, como que querendo dar uma dimensão do homem de família, preocupado com o futuro dos filhos, e o final - talvez isto seja inevitável numa produção americana - tem aquele tom solene e xenófobo-patriota que comprometem um pouco o filme. Fora isto, Capitão Phillips tem mais acertos do que erros. O maior deles é evitar clichês como uma narração em off da personagem principal, para explicar melhor a história. Outro grande acerto do roteiro foi mostrar no início do filme os preparativos para embarque tanto do lado do Capitão e sua tripulação, quanto dos piratas que estão indo "atacar" suas próximas vítimas, para depois unir suas trajetórias no momento em que o navio é interceptado.
Além de Hanks, que nos momentos finais, já resgatado, consegue extravasar toda a tensão que sofreu nas mãos de seus algozes, no seu melhor momento de interpretação dramática no filme, é surpreendente a qualidade das performances dos atores - acredito que possivelmente amadores - que interpretam os 4 piratas somalis. Este nível de qualidade das atuações tem muito de seu mérito ao diretor, que demonstra estar preocupado com a qualidade geral da produção, não apenas os aspectos técnicos, como a montagem. Em muito colabora também a excelente trilha sonora, que cumpre com eficácia o seu papel de ajudar a criar o clima de tensão do filme.
Ao final, salta aos olhos a brutal desproporção entre o aparato militar e técnico que a "bandeira" americana coloca em ação para resgatar o Capitão Phillips, em comparação com o armamento que dispõem os piratas, que, além de ao longo do filme não terem aquele tratamento de vilões-inimigos da democracia americana, acabam revelando um insuspeito lado até ingênuo na fase de negociação.