Se alguém duvidava que Tom Hanks ainda conseguisse nos surpreender depois da atuação brilhante em "O Náufrago", chegou a hora de morder a língua. O cara definitivamente não cansa de nos deixar boquiabertos com suas interpretações pra lá de inspiradas e, dessa vez, não poderia ser diferente.
O filme começa morno, mas dá uma idéia ótima da personalidade de Phillips. Um cara calmo, centrado, prudente. E que consegue se manter assim mesmo quando seu navio começa a ser atacado pelos piratas. É com essa destreza e sensatez que ele consegue desenrolar a situação, brindando-nos com uma verdadeira aula de conduta, abrilhantada ainda mais pela atuação excepcional de Hanks.
Do outro lado, Muse, o “capitão” somali, um cara franzino, inexperiente, mas pra lá de determinado. Seu jeito completamente oposto ao de Phillips confere à trama um equilíbrio formidável, que mantém o expectador tenso, mas ao mesmo tempo esperançoso durante todo o filme. Além disso, a escolha do elenco africano foi simplesmente perfeita. Cada membro da “gangue” de Muse (inclusive o próprio) parece ter sido escolhido a dedo. Tudo bem que, em uma megaprodução como essa, o mínimo que os caras devem fazer é escolher bem o elenco, mas o trabalho foi realmente muito bem feito.
O grande trunfo do filme, contudo, é a humanização que Greengrass consegue conferir aos somalis. Ora, seria muito fácil retratá-los como os mocinhos maus que atacaram um navio indefeso da “coitada da América”, que só quer ajudar o mundo. Todos sabemos que é assim mesmo que muitos americanos pensam e não faltam filmes por aí que registram esse pensamento, cá entre nós, estúpido. Os piratas de Capitão Phillips, contudo, apesar de realmente violentos e incisivos, são absolutamente humanos. Pessoas que sofrem – e muito – com a situação que seu país enfrenta e fazem de tudo para (sobre)viver, mas que não agem assim por pura e mera maldade, como é o caso dos vilões “reais”. Agem por conta das circunstâncias, cumprindo ordens e se esforçando para proteger os próprios companheiros. “São apenas negócios, tudo vai ficar bem”, é o que Muse sempre repete, durante todo o filme.
De qualquer forma, se você acha que vai se livrar do patriotismo desmedido americano, se enganou. No final (e nem preciso contar que tudo acabou bem, afinal, se tivesse acabado mal, Capitão Phillips não estaria vivo para contar a história), a coisa degringola pra esse lado mesmo e tudo são flores na fabulosa América. Mas dos males o menor, né? Já que não tinha muito como fugir disso (visto que o troço, afinal, deu certo pro lado deles mesmo), o que importa é que Greengrass conseguiu produzir um filme digno, que consegue agradar o expectador e cativar sua atenção durante os 134 minutos da produção. Vale a pena.