Vexame
por Francisco RussoEra uma vez um ator por muitos considerado o melhor de sua geração. Ganhou duas estatuetas do Oscar, uma de coadjuvante e outra como ator principal, por desempenhos aplaudidos e reconhecidos mundo afora. Disputava uma competição sadia com outro monstro de sua época, Al Pacino, ao ponto do encontro dos dois ser saudado como grande acontecimento cinematográfico. Entretanto, o canto da sereia o fisgou ao notar que, graças ao estereótipo de suas grandes atuações, poderia fazer rir. Da primeira comédia, Máfia no Divã, ainda vieram aplausos. A possibilidade de lucro fácil na reta final da carreira fez com que enveredasse de vez neste caminho, abandonando tudo aquilo que o tornara um ator de excelência. Os roteiros pioraram, a quantidade de filmes ruins aumentou, mas nada, absolutamente nada, que chegasse aos pés de Tirando o Atraso. Robert De Niro, enfim, chegou ao fundo do poço.
Uma constatação que chega com uma boa dose de tristeza. Afinal de contas, onde está o ator instigante e inquieto de Touro Indomável, Taxi Driver e Cabo do Medo? Se já era triste vê-lo no piloto automático em todo tipo de comédia (tola) de situação, simplesmente explorando sua carranca notória, Tirando o Atraso consegue ir alguns degraus abaixo ao trazer De Niro em situações vergonhosas. E não se trata de perder o respeito por si mesmo ou sua carreira, pois isto De Niro parece já ter deixado para trás há tempos. Trata-se de ter a mínima consciência sobre (a falta de) qualidade e mau gosto, discernimento necessário para todo aquele que trabalha no meio artístico. Simples assim.
Talvez de olho em uma nova faixa de público (???), De Niro agora investe pesado na seara das comédias politicamente incorretas, a qual o parceiro de cena Zac Efron já vinha perambulando há algum tempo. O problema não é nem a existência de piadas sujas, que podem fazer rir (bastante) quando bem colocadas - o que jamais acontece aqui, é bom deixar claro. A questão maior é o tom histérico imposto pelo diretor Dan Mazer, que busca o choque a todo custo. Seja através de piadas preconceituosas e ofensivas, apelando para trocadilhos infames envolvendo filmes e frases famosas, ou pelos clichês jogados na tela de forma que se construa alguma história em torno deles. Afinal de contas, elaborar para quê? Basta colocar mais uma piada sexual ou de flatulência que está tudo bem...
Com uma quantidade incrível de idiotices por minuto, Tirando o Atraso consegue a proeza de se tornar insuportável logo em seus primeiros 15 minutos. Há (vários) momentos em que mesmo a vulgaridade e a ausência de inteligência defendidas pelo roteiro de John Phillips ultrapassam qualquer limite, já que a intenção maior é ir fundo no absurdo. É bem verdade que no terço final há uma guinada mais convencional, de forma a fortalecer laços familiares entre os dois protagonistas e entregar alguma conclusão à história absolutamente estereotipada, mas até lá o estrago é irremediável. Não há salvação.
E o pior: a sensação que fica é que De Niro realmente se divertiu ao rodar este longa-metragem. Triste fim de carreira.