A idade do lobo
por Renato HermsdorffA idade do lobo
O Que os Homens Falam fala, na verdade, sobre o que os homens não falam. Ou, pelo menos, não falam em um primeiro momento. Do pouco conhecido (no Brasil) diretor espanhol Cesc Gay, o longa (Una Pistola em Cada Mano, no original) traz cinco – ou seis, dependendo do ponto de vista – episódios tão bons quanto díspares entre si, uma vez que, pelo menos em princípio, eles não se comunicam.
As histórias, relativamente rápidas, começam de maneira até banal e, a partir de um ponto de virada muito bem posicionado, ganham substância, para desembarcar, com um discreto humor, em uma reflexão sobre o a condição do homem maduro contemporâneo.
A foto do ator Ricardo Darín (bem popular no país) em destaque no cartaz brasileiro do filme pode causar uma impressão errada. A participação do ator argentino é tão grande (ou tão pequena) quanto a de qualquer outro do numeroso elenco. A falta de "destaque" do ator, no entanto, não se trata de um demérito. Pelo contrário. Isso porque, apesar da heterogeneidade das histórias, o grupo, majoritariamente masculino, está todo bem.
Com interpretações, acima de tudo, sutis, entre eles estão Leonardo Sbaraglia (Plata Quemada) e Eduard Fernàndez (A Pele que Habito), como dois amigos que se reencontram depois de longa data; Javier Cámara (mais conhecido do público brasileiro, por Fale com Ela e Os Amantes Passageiros, ambos de Pedro Almodóvar), que tenta reconquistar a mulher; Luis Tosar (Segunda-Feira ao Sol), que divide a cena com Darín, cujo personagem acha que está sendo traído pela mulher; Eduardo Noriega (também de Plata Quemada), que passa uma cantada em uma colega de trabalho; além de Alberto San Juan (Enquanto Você Dorme) e Jordi Mollá (de Riddick 3, entre muitos outros), que enfrentam problemas em seus casamentos.
Além de pertencerem ao dream team atual do cinema espanhol – ou de língua espanhola, já que Darín e Sbaraglia são argentinos (e descontada a ausência de Javier Bardem, o que configuraria uma espécie de Avengers mediterrâneos), todos os atores estão na faixa dos 40/ 50 anos. E é esse o pulo do gato do filme de Cesc Gay. Afinal, apesar de inúmeras produções já terem abordado a crise de meia-idade feminina (o que uma vez já foi chamado de a idade da loba), é o universo masculino que está na berlinda desta vez. Não é pouco. E, se considerarmos a nacionalidade da produção, é mais ainda, uma vez que os espanhóis têm fama de machões. (As mulheres estão bem representadas, mas a elas cabe o papel de “escada”, para que o universo masculino do lobo possa ser dissecado).
Não se trata de um filme inesquecível – tecnicamente, é até uma produção comum –, mas a obra consegue traçar um bom e raro retrato do universo masculino desta geração, seus medos e suas fraquezas. Afinal, mesmo que eles não digam, as questões estão lá.