Percy Jackson e o Mar de Monstros só reforça os méritos do primeiro filme, Percy Jackson e o Ladrão de Raios, e dentre estas qualidades uma é incontestável: tornar a mitologia grega palatável para as mais variadas idades, desde os muitos jovens, já que a classificação indicativa é 10 anos, até pais, mães e avós. Filme de ação/aventura para a família, a sequência consegue ser interessante para crianças, adolescentes e adultos.
Difundir a fascinante mitologia grega, ou despertar a curiosidade por conhecê-la melhor, em tempos em que todo mundo vive online, mas sabe de quase tudo um pouco e quase tudo mal não é uma qualidade desprezível. É um excelente estímulo para ampliação da cultural geral. Até porque a adaptação que o filme faz dos mitos gregos para que eles tenham sentido dentro da história e costurem bem o enredo no contexto adolescente é extremamente feliz. Eles são transportados para os dias de hoje tendo sua essência respeitada. É o caso do diretor do acampamento, Mr D. Interpretado com a competência típica de Stanley Tucci, Mister D. aparece pouco mas sempre atrai atenção e diverte com sua incapacidade de memorizar o nome certo dos jovens do acampamento, trocadilhos engraçados e outras trapalhadas características de quem, digamos, bebeu um pouco a mais de vinho, afinal, esse D. abreviado é nada mais nada menos do que a inicial de um conhecido deus grego associado ao vinho. Isso também se aplica a breve aparição do deus Hermes. Onde o deus mensageiro do Olimpo poderia trabalhar disfarçado nos dias atuais? Não poderia ser num lugar mais adequado. Não vou estragar a surpresa. Essa adaptação bem do sucedida do ambiente mitológico também se aplica à localização do tal mar de monstros do título no mundo de hoje. Onde? No misterioso Triângulo das Bermudas, claro. Sem problemas contar isso, porque está no trailer.
Destaco esse transporte dos mitos da antiguidade para a atualidade, porque nem filmes sobre o assunto ambientados na própria Grécia Antiga o conseguem fazer de forma satisfatória, como é o caso de Fúria de Titãs, especialmente do segundo filme, que faz uma verdadeira salada de personagens e histórias que acabaram ficando desprovidas de sentido e bem confusas. Isso não acontece em Percy Jackson. Mesmo descolados de seu ambiente original os mitos conservam suas características básicas e mais interessantes.
Logan Lerman se firma como o herói Percy, único filho meio-sangue vivo de um dos três deuses mais antigos, importantes e poderosos do Olimpo, Poseidon, ao lado de Zeus e Hades. Neste ponto o filme deixa um pouco a desejar: o trio de megadeuses merecia mais destaque. Embora isso não comprometa a história, a tornaria ainda mais interessante. Percy conquista pela integridade, pela humildade, aliás, traços que o ator já imprimiu muito bem ao personagem no primeiro filme e também a outro protagonista vivido por ele em “As vantagens de ser invisível”. É muito fácil se identificar com os dramas adolescentes vividos pelo filho do deus dos mares. Quanto aos leais amigos de Percy, Annabeth e Grover, Alessandra Dadario e Brandon T. Jackson respectivamente, estão bem no papel. Nada de extraordinário, mas também não cometem pecados graves. Grover, às vezes, faz piadas demais, mas o que esperar de um sátiro? O trio ganha o apoio de um quarto elemento que conquista pela carência de seu personagem, cujo visual estranho reforça o a ideia de que as aparências enganam.
Eu não hesitaria em recomendar que assistam ao filme. É um ótimo entretenimento. As coisas, dentro da adaptação da mitologia, estão nos devidos lugares. Até o feioso e menos conhecido Touro de Colchis está mais situado do que o famoso e lendário Minotauro, perdido em Fúria de Titãs 2.