Romeu e Julieta e mortos-vivos
por Bruno CarmeloMistura improvável entre comédia romântica e filme de mortos-vivos, este é um projeto que poderia ter tomado rumos muito distintos. Por um lado, o livro que deu origem ao filme foi muito elogiado por Stephenie Meyer, a autora da saga Crepúsculo, aumentando a especulação de que a história poderia se concentrar no tom romântico. Já os trailers e cartazes preferiram apostar na veia cômica, deixando a história de amor em segundo plano. O diretor Jonathan Levine, por sua vez, é conhecido pelos dramas intimistas, embora o roteiro de sua própria autoria não poupe as cenas com perseguições e cadáveres. Felizmente, diante de tamanha diversidade, Meu Namorado é um Zumbi conseguiu extrair o melhor de todos os mundos.
Um dos maiores méritos é o fato de esta história não se levar a sério. Ela não quer ser um filme épico sobre o amor, nem uma trama arrepiante de horror. Apesar de dominar os códigos de todos esses gêneros, Levine opta por brincar com os clichês de cada um deles. O garoto zumbi reclama que seus colegas mortos-vivos são lentos demais, que não se comunicam muito bem. A garota humana despreza o namorado belo e protetor, e se confia a uma amiga desbocada e nada romântica. A maneira como o zumbi R (Nicholas Hoult) conhece o paradeiro da humana Julie (Teresa Palmer) é bastante curioso: comendo o cérebro do namorado dela.
Essas liberdades narrativas são possíveis porque Meu Namorado é um Zumbi adota uma série de "licenças poéticas", que o espectador deve tolerar caso queira embarcar no projeto: embora o protagonista seja um morto-vivo que apenas balbucia monossílabos, ele narra (em off) de maneira eloquente e crítica o seu cotidiano; quando devora cérebros alheios, ele não apenas mata sua fome, mas também incorpora a memória de suas vítimas. Os elementos "toscos" ou inverossímeis são claramente voluntários.
O sucesso do projeto recai no equilíbrio do tom cômico, bem orquestrado pelo elenco e pela equipe. Nicholas Hoult constrói um zumbi de olhos vidrados, mas sem movimentos exagerados; Teresa Palmer faz uma garota de temperamento forte e rosto bastante expressivo (o que a diferencia da crepuscular Kristen Stewart); os amigos da dupla, interpretados por Rob Corddry e Analeigh Tipton, não param de parodiar os elementos do romance. A produção consegue usar o orçamento limitado de maneira muito eficiente (vide a prisão dos humanos e o subúrbio americano), já o diretor opta por enquadramentos que são, em si mesmos, engraçados ou satíricos (a câmera subjetiva de um banco reclinando, a vista externa da festa dentro do avião, as imagens dos sonhos).
Estes elementos são embalados em uma trilha sonora impecável, repleta de canções rock melódicas dos anos 1980, além de muitas referências pop, que vão da qualidade do som dos iPods à relevância cultural de Kim Kardashian. As reflexões hilárias de R sobre sua condição de morto-vivo já valem o ingresso. Meu Namorado é um Zumbi é uma comédia esperta e agradável, com uma deliciosa aura de filme cult adolescente.