Saí a pouco tempo do cinema pensando em como poderia escrever este post de uma maneira que demonstrasse um pouco do meu sentimento em relação ao filme, e foi então que percebi que é exatamente isso. Os Miseráveis é um filme que está diretamente relacionado com sentimentos, emoções, sensibilidade, algo que se percebe apenas no “ar”, mas que o filme materializou muito bem. Os Miseráveis está para a emoção assim como a emoção está para Os Miseráveis.
É importante dizer que se você não gosta de filmes musicais, então não vá ao cinema! É um favor que você faz a você mesmo e as pessoas que estão indo ver o filme. Isto porque o filme é 99.9% de canções, são raríssimas as vezes que vemos algum tipo de diálogo ou até palavras sendo faladas normalmente. O filme focou, e ao meu ver, de forma primorosa no que a peça de teatro oferece de melhor, e o que a fez ser o sucesso que é até hoje, as canções!
A história de Victor Hugo é muito dramática, e em poucos minutos de cena você já se depara com a França do século XIX devastada por batalhas, misérias, pobres e ricos brigando por dignidade. A história se passa ao redor de Jean Valjean, um ex-prisioneiro que é condenado por ter roubado um pão para seu sobrinho. Após cumprir 19 anos da pena, Valjean é posto em liberdade condicional, porém, essa “liberdade” é completamente absorvida pela miséria, o que faz Valjean virar um mendigo. Sem esperança, um dia ele é ajudado por um padre que lhe dá um lar, comida, roupas novas e lhe mostra um outro lado da vida. Valjean então é considerado foragido pela justiça após abdicar da “liberdade condicional” e agraçar sua nova vida. Com o passar dos anos, ele se torna um homem poderoso e tem um encontro marcante com Fantine, uma jovem que trabalha duro para tentar recuperar a filha, Cosette. Enquanto se envolve por essa nova história, Valjean é perseguido pelo inspetor Javert, que quer prender o tal homem foragido.
O filme é dirigido por Tom Hooper, mesmo diretor de O Discurso do Rei, que teve uma sensibilidade enorme com todas as cenas. Gostei muito da solução que ele deu para algumas cenas mais dramáticas, onde os personagens estão pensando ou questionando algo. Hooper focou no ser-humano, extraiu do elenco uma interpretação muito concentrada o que fez o filme ganhar muito em
qualidade. Vocês perceberam muitas cenas de um personagem solo, com um enquadramento dos ombros para cima, ou seja, com foco no rosto. Na cena em que Anne Hathaway canta a famosa música “I Dreamed a dream”, conseguimos ver nitidamente que a intenção do diretor era filmar uma cena única, interrupta com todo o ar dramático de uma mulher que acaba de prostituir por pouco dinheiro para tentar encontrar a filha. É de arrepiar!
Além de Hathaway, temos Hugh Jackman, Russell Crowe, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Aaron Tveit, Samantha Barks, Daniel Huttlestone. Aliás, Hugh Jackman mostra todo seu know-how de musicais no filme, canta e interpreta com uma facilidade incrível. Poucos sabem, mas o ator australiano fez muitos musicais em seu país, assim como nos Estados Unidos, antes de alcançar a fama. Além disso, pode-se destacar também o casal Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, que estão perfeitos nos papéis que lhes foram dados. Ambos tem uma presença muito bem colocada na história e foram inseridos com uma precisão maravilhosa!
Minha única crítica ao filme é um excesso de enquadramentos nos personagens quando estão cantando, por mais que seja muito bonita a forma como é feita e o fato de usarem o recurso para transmitir o sentimento do personagem, para mim isto poderia ter sido mais mesclado com cenas mais abertas, ou até mesmo com cortes para lembranças, pois fica um pouco massante a repetição. Mas trata-se de uma crítica com um certo entendimento, pois no cinema, o diretor procurou fazer algo que no teatro não é possível, que é justamente essa aproximação do personagem de uma maneira que nos conecte com ele, ao ponto de olharmos para os olhos dele e lá ver a lagrima, a veia de raiva e até a decepção.
Enfim, Os Miseráveis é um filme para ser assistido com o coração e sem preconceitos. O filme tem cenas fantásticas com uma fotografia linda, e a última cena é uma das mais emocionantes de todas, uma despedida de Jean Valjean com grande estilo e muita, muita emoção. Sem dúvida, um dos melhores musicas já feitos! Lindo, sensível, emocionante e acima de tudo, humano.