O destino ajuda os humildes
por Bruno CarmeloDesde as primeiras cenas, que contrastam o antigo sucesso do jogador de futebol George com o fracasso dele atualmente, o espectador percebe que esta será uma típica história de redenção. Muitas pessoas (e muitos filmes) acreditam que, para curar a arrogância de um homem rico, nada como um bom banho de humildade, fazendo-o perder tudo o que tem para se reconstruir novamente. É a velha ideologia da pobreza como forma de pureza. O diretor Gabriele Muccino já tinha apostado nessa premissa em outra produção Hollywoodiana de sua autoria, À Procura da Felicidade, que levou muitos fãs às lágrimas.
Um Bom Partido, no entanto, traz menos sofrimento e mais leveza. Para que o personagem desiludido se recomponha, o roteiro pretende lhe fornecer muitas medidas de sucesso diferentes. Depois de perder a fama como jogador de futebol, ele tem que reconquistar: a) o sucesso com mulheres casadas, b) o coração de sua antiga esposa, c) o filho para quem sempre foi ausente, d) um novo emprego como locutor esportivo, e) a admiração enquanto jogador, treinando uma equipe de futebol mirim, f) uma casa, g) um carro. São muitos elementos diferentes que o roteiro tenta combinar, e justamente por esse excesso, nenhum dos núcleos é desenvolvido de maneira satisfatória.
A solução encontrada pelo roteiro foi facilitar a redenção e tornar George (Gerard Butler) um autêntico homem-objeto – não no sentido de símbolo sexual (a câmera evita explorar o corpo de Butler, ou os momentos de sexo), mas no sentido de alguém que não é sujeito da própria vida, que não toma iniciativas por conta própria. Quando ele precisa de dinheiro, um homem milionário cai do céu e lhe presenteia com milhares de dólares e uma Ferrari. (É sério). Para conseguir o sonhado emprego de locutor, uma mulher atraente liga para seus contatos, faz um vídeo-teste e envia a gravação à ESPN, enquanto George espera pelo sucesso da empreitada. Até com o filho pequeno, a proposta de dormir na casa do pai tem que partir do garoto. A reconstrução da vida de George é fácil, porque não é executada por ele.
Estas escolhas tiram consideravelmente o peso da trama. Gerard Butler, ator de poucos recursos, também não ajuda, mesmo estando cercado por um grupo cômico competente, incluindo Catherine Zeta-Jones (mais contida que de costume) e Judy Greer (que domina com perfeição a figura da garota histérica). Jessica Biel também é competente como contraponto dramático, conseguindo dar estofo à típica dona de casa que é bela, mas parece enfeiada pela rotina caseira – lembrem-se, crianças, mulheres de cabelos presos e com roupas cinzentas são perfeitas para casar, mas mulheres de maquiagem e roupas justas só servem para diversão...
Machismos à parte, Um Bom Partido nunca pretendeu ser um filme inovador e profundo, mas ele tinha a ambição de ser ao mesmo tempo romântico, dramático e engraçado, interessante tanto para homens quanto para mulheres. Neste sentido, o projeto fracassa, especialmente no aspecto cômico, que a montagem não sabe articular. Apesar da má conclusão – um abrupto abandono do realismo em prol da idealização do amor – este filme poderia ser uma produção simples, gostosa de ver à tarde na televisão, sem pretensões. Mas para isso, faltou criar um personagem ativo, que produzisse algum efeito no mundo ao redor, ao invés de esperar que o destino resolvesse tudo por ele.