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    O Touro Ferdinando
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Touro Ferdinando

    "Ser esquisito é ser normal"

    por Renato Hermsdorff

    "Ser esquisito é ser normal agora". Essa é a mensagem central de O Touro Ferdinando, animação da Fox comandada pelo brasileiro Carlos Saldanha (A Era do Gelo), que resulta em uma ode à tolerância. Em se tratando de uma produção voltada, em princípio, para o público infantil, não é apenas louvável, como muito bem-vindo o lema - sobretudo em tempos de difícil aceitação do outro no universo dos adultos. Para os maiores, no entanto, o filme carece de uma certa sofisticação no roteiro - um “requinte” que a concorrência (leia-se Pixar) tem trazido com frequência em suas obras, mas que não tira o mérito educativo do novo longa.

    Ferdinando, o herói aqui, é um touro… esquisito. Assim como no curta vencedor do Oscar Ferdinando, o Touro - que a Disney lançou em 1938 (por sua vez baseado no conto “The Story of Ferdinand” publicado em 1936 pelo autor norte-americano Munro Leaf) -, trata-se de um bovino que só faz cheirar as flores e descansar na sombra da árvore, enquanto seus “pares” se digladiam a fim de serem convocados para as touradas. Por um acidente (uma picada de abelha), Ferdinando acaba perdendo o controle e assusta aqueles não habituados com seu caráter pacifista. O mal entendido o leva direto para a arena de competição, onde todos acreditam se tratar de um monstro.

    Escrito por um time de roteiristas, Ferdinand (no original) consegue superar o desafio inicial de transformar um curta (ou uma história curta) em um longa. No entanto, os profissionais parecem tão preocupados em justificar a transposição de formato, que criam uma série de reviravoltas para se chegar nas quase duas horas do produto final. É cansativa a experiência em alguns momentos, principalmente quando elencadas por sequências de perseguição que visam a substituir o (sub)texto pelo (super)estímulo visual.

    Assimilado o "recado", o grande destaque da adaptação vem no plural: os personagens secundários são cativantes. Desde os touros com perfis variados (olha a diversidade aí) ao cachorro mal-humorado (o que também é uma inversão de expectativa) membro da nova família, passando pelos cavalos estrangeiros exibicionistas, até os porcos-espinhos malandros dados a uma boa conspiração (lembra os Pinguins no primeiro Madagascar?), todos têm seu papel muito bem definido na trama/ moral da história. E a coadjuvante que rouba a vez é uma agitada cabra, num equivalente (e muito bem executado) trabalho de voz da atriz Thalita Carauta na versão dublada.

    Além de atualizar questões contemporâneas, como os “direitos” dos animais, o filme é divertido, sem sombra de árvore de dúvidas (não deixe de reparar nas cenas, hilárias, em que Ferdinando invade uma loja de louças; e na “batalha de dança” entre os animais). No fim, O Touro Ferdinando traz uma trama complexa (para o bem e para o mal), mas previsível. O que não é exatamente um problema - o recado é claro e pertinente -, mas o filme tampouco se sobressai.

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