Começa um tanto quanto confuso pra quem é jogado na história pela primeira vez, e com um ritmo lento inicial, vai desenhando uma trama tão interessante que nos deixa absolutamente envolvidos quando, então, a história nos é realmente apresentada.
O filme é eletrizando. Por volta da metade, o roteiro parece encontrar o tom e não para jamais. Algumas coisas desse filme me lembraram "Tudo Pelo Poder" (não a toa George Clooney assina a direção - fato que eu nem sabia antes de chegar aos créditos finais), e toda a intriga internacional com o governo é, a partir de certo ponto, muito bem desenvolvida. O filme empolga, de fato, e quando chega o final, somos capazes de agir internamente da mesma forma que esses personagens.
Ao passo que, sem dúvidas, não é um filme perfeito. Acerta na construção da tensão, sempre crescente, ascendente, construída profundamente a medida que seu protagonista vai se envolvendo mais a fundo em todo aquele esquema. Mas erra, infelizmente, na realização do lado afetivo de Tony Mendez. Sua relação com o filho é tão pouco explorada, que o final nos parece extremamente 'jogado', pra nada. Pode ser defeito de edição, mas a participação de sua ex-mulher é incoerente e absurdamente dispensável. Se não tentasse forçar um final feliz, o filme terminaria muito melhor.
Tecnicamente, é quase perfeito. Figurinos, direção de arte e ambientação, toda a parte técnica - incluindo a maravilhosa fotografia -, é digna de aplausos e prêmios. As sobreposições de imagem também são um acerto muito grande de Affleck, aspecto usado e abusado por ele nesse filme. Mas se como diretor ele arrasa, como ator... não! Fica cada vez mais a impressão que um intérprete melhor poderia estar na tela, Tony Mendez é um personagem sensacional, entretanto, mal interpretado. Não que o filme tenha outros atores com desempenho destacado (até porque os coadjuvantes não chegam nem perto do foco que o filme tem em seu protagonista, e Bryan Cranston, que é FODÃO, está em uma atuação bem comum), mas o personagem que segura o filme merecia uma interpretação à altura.
Mas, o saldo final é mais positivo, bem mais. A cada filme que entrega, Ben Affleck mostra um desenvolvimento maior, crescimento como realizador e uma direção muito mais segura. Esse filme é uma transição pra um cara que, realmente, descobriu o que faz melhor. Mas Affleck só vai se tornar um grande diretor quando deixar de se auto-escalar. Por ora, enquanto não temos ainda uma obra-prima do sr. Afleck, ficamos com o grande filme que é ARGO.