Depois de “The Town”, Ben Affleck volta para trás das câmaras para filmar “Argo”, um filme baseado em factos verídicos que nos apresenta um episódio marcante das relações entre o Irão e os Estados Unidos da América. Ben Affleck é também protagonista principal deste filme, dando vida a Tony Mendez, um experiente agente com um vasto currículo bem sucedido em resgates. Pegando nas tramas da vida real, “Argo” conta, acima de tudo, uma história de grande coragem e determinação.
A restituição das manifestações junto da embaixada norte-americana em Teerão é recriada com grande mestria por parte de Ben Affleck, sendo bastante rigoroso, ao mesmo tempo que mostra um “cenário de guerra”, de absoluto caos e desordem. E assim começa “Argo”, com imagens controversas, possivelmente, as mais fortes que o filme nos oferece. De um lado temos os manifestantes, que nos transmitem um sentimento de pura raiva e revolta, do outro lado do muro sentimos o terror sentido pelos trabalhadores da embaixada norte-americana, completamente aterrorizados e temendo pelas próprias vidas enquanto tentam desesperadamente destruir todos os arquivos confidencias.
Desta invasão apenas seis trabalhadores conseguem escapar, refugiando-se na residência do embaixador canadense. É aqui que Tony Mendez e a CIA entram em acção. No sentido de resgatar os seis cidadãos norte-americanos, Tony alia-se a dois nomes do cinema, Lester Siegel e John Chambers, também eles mestres do disfarce em Hollywood. Estas três personagens, têm a difícil tarefa de recriar todo um filme de forma credível. Lester e Chambers criticam a indústria cinematográfica, recolhendo favores e fazendo alguns inimigos para criar “Argo”, um filme de ficção-científica.
A ideia de recriar todo um filme com o simples intuito de “servir de engodo” apareceu na cabeça de Tony aquando do visionamento do filme “Planet of the Apes” com o seu filho. Esta é a primeira e penúltima vez que é explorada a família de Tony no filme, nada ou quase nada sabemos sobre a sua vida, apenas que é um profissional exemplar, e neste aspecto, na minha opinião, o filme peca um pouco e fica aquém das expectativas. Mesmo sobre os próprios refugiados é pouca a informação que obtemos, tudo é-nos apresentado de uma forma bastante superficial, sempre muito voltada para o problema que vivem no momento e pouco nas relações que entre si se estabelecem, tornando-se até por vezes difícil distingui-los uns dos outros. Além de existir bastante suspense no final, quando acompanhamos Tony e os seis refugiados na tentativa de embarque no voo para Zürich, na minha opinião, “Argo” merecia mais tempo de filme, mais tempo para conhecer-mos melhor as personagens, só dessa forma conseguiria tornar-se mais intenso nos derradeiros minutos, não conseguindo assim ter um final brilhante.
No que diz respeito ás interpretações, Ben Affleck teve sublime, conseguiu demonstrar uma vez mais que tem capacidade para liderar um elenco. A dupla de actores secundários John Goodman e Alan Arkin são peça fundamental para o sucesso deste filme, sempre num contexto mais descontraído, ambos conseguiram interpretações muito boas. Quanto a Bryan Cranston, embora muito longe da acção, consegue oferecer-nos uma das cenas mais emocionantes e bem interpretadas do filme.
Apesar das boas interpretações, do óptimo trabalho de realização de Ben Affleck e da restituição fiel de algumas cenas da revolução Islâmica, na minha opinião, “Argo” fica aquém das expectativas.