A prova final de que a venda da Pixar para a Disney foi ótima Enquanto a Pixar invadia o território da Disney e criava a princesa ruiva e Valente, a Disney Animation foi fazer o seu Toy Story. Porém, em vez dos brinquedos que ganham vida quando ninguém está olhando, Detona Ralph (Wreck-it Ralph, 2012) mostra o que os personagens dos videogames fazem depois do último game over do dia. O Ralph (voz original de John C. Reilly e versão brasileira de Tiago Abravanel) do título é um grandalhão que passou os últimos 30 anos quebrando um prédio de cima a baixo, para o seu antagonista, Conserta-Tudo-Felix Jr. (voz de Jack McBrayer / Rafael Cortez), usar seu martelo mágico e sair reconstruindo as janelas e os tijolos quebrados.
Tantos anos só levando a pior, sem nenhum tipo de reconhecimento por parte dos outros "moradores" do game deixaram Ralph deprimido. Nem a reunião dos Vilões Anônimos consegue fazê-lo se sentir melhor. A única saída que ele vê é ganhar uma medalha dourada igual à do Felix. E assim lá vai ele em direção à Estação Central (igual à de Nova York, mas localizada no centro do Fliperama mesmo), de onde partirá para outras aventuras.
Do mundo dos 8 bits onde ele ainda resistia bravamente, Ralph vai parar em um moderníssimo jogo de tiro em primeira pessoa de alta definição ambientado em um planeta alienígena cheio de insetos gigantes voadores. E o resultado não poderia ser outro: ele causa a maior confusão e coloca em risco todo o universo que existe por trás dos jogos daquele arcade. E agora, antes de conseguir voltar para casa, ele vai ter de ajudar a pequena Vanellope Von Schweetz (Sarah Silverman / MariMoon), um "bug", a participar de uma corrida no game Sugar Rush. Como ambos são párias em seus jogos, o objetivo em comum, reconhecimento, fala mais alto do que suas diferenças, mas pouco a pouco a amizade entre eles vai surgindo.
Embora bastante previsível no desenrolar de seus dramas, a história está recheada de easter eggs. Eles vão desde a "participação especial" de personagens famosos de games reais (alguns deles históricos, como o Q*Bert e as barrinhas de Pong), até mesmo a situações que as crianças talvez não entendam ainda, mas os adultos vão se divertir. É o caso, por exemplo, do lago gigante de Coca Diet coberto por estalactites de Menthos, os códigos de "cheat", o player em primeira pessoa, etc.
A dublagem, que mais uma vez traz nomes conhecidos para tentar emprestar um pouco do "glamour" que se perde na versão local em relação à original, novamente está muito bem dosada. Abravanel, Cortez e MariMoon conseguem emprestar aos seus personagens o tom que eles pediam e são ajudados também por uma tradução que acerta nos termos técnicos sem ficar "gamer" demais.
Detona Ralph não é inovador no seu conceito - como já foi dito, é uma visão muito semelhante a um Toy Story. Tampouco é original no seu tema - adaptações de jogos estão aí aparecendo nos cinemas desde que Mario entrou pelo cano pela primeira vez. Mas mesmo assim ele consegue ser o melhor filme já feito inspirado no universo dos videogames. É a prova de que dá, sim, para desenvolver personagens, tramas paralelas e mundos fantásticos no cinema e ainda deixar o público com uma vontade de jogar, digo, ver mais. Game over? Que nada, é só o começo!