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    Detona Ralph
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Detona Ralph

    Electronic toy story

    por Francisco Russo

    Um dos méritos da Pixar em seus melhores filmes é a capacidade de contar uma história sob a ótica do personagem em questão. Foi assim em Procurando Nemo (o habitat dentro de um aquário), Wall-E (um planeta devastado observado pelo pequeno robô-título) e em Toy Story (o mundo pelo olhar dos brinquedos). O mais impressionante não é propriamente esta mudança de foco, mas a análise da percepção de vida a partir daquela realidade em questão. Não é, por exemplo, o que um humano acharia de determinada situação, mas o que um brinquedo compreenderia desta mesma situação tendo o seu cotidiano como base. Com Detona Ralph é exatamente isto o que acontece, com uma diferença: este não é um filme da Pixar, mas da Walt Disney. Ou seja, é uma demonstração clara do quanto o modo de pensar da Pixar tem influenciado o trabalho na boa e velha casa do Mickey.

    Pode-se dizer que Detona Ralph seja uma espécie de "Toy Story dos jogos eletrônicos". Afinal de contas, a ideia base dos filmes é a mesma: os personagens existem para servir aos humanos (no caso em questão, a quem coloca a ficha no fliperama) e há um clima nostálgico devido à presença de personagens clássicos. A história começa no jogo Conserta Felix Jr. – homenagem explícita a Donkey Kong - , onde Ralph está cansado de sempre se dar mal ao término de cada partida. Pior, ele é ainda desprezado pelos demais personagens do jogo, que mal falam com ele e sempre o deixam fora das comemorações. Disposto a provar seu valor, Ralph resolve ir à luta em outros jogos para obter uma sonhada medalha, seu passaporte para uma vida melhor. Ao menos é o que ele acredita.

    As aventuras de Ralph dentro e fora de seu jogo original são um verdadeiro convite ao mundo dos jogos eletrônicos. Repleto de sacadas divertidas – o grupo de terapia dos vilões, logo no início do filme, é impagável -, o filme brinca com situações até mesmo trágicas para um personagem eletrônico. Afinal de contas, o que fazer caso seu jogo seja cancelado? E se o arcade apresenta algum problema? Estas são algumas situações absolutamente normais dentro deste ambiente, assim como o imenso hall onde os personagens podem se encontrar e como eles chegam lá. A criatividade ao desenvolver este universo, e abastecê-lo com informações tão particulares sob a ótica de quem vive nele, é o grande trunfo do filme, que brilha ainda ao mesclar o lado clássico com a atualidade. Se há Conserta Félix Jr, com seus 30 anos de vida, os jogos de tiro em primeira pessoa também ganham espaço privilegiado dentro da história. "Olha a alta definição do seu rosto", chega a dizer um apaixonado Felix, ao mesmo tempo em que vê seus colegas de jogo se movimentarem bem lentamente, assim como eram os personagens eletrônicos nos primórdios do videogame, nos anos 1980.

    Em meio a tantas citações – não perca os créditos finais, onde vários personagens clássicos dão as caras -, Detona Ralph também conquista por uma história simples que cativa todo tipo de público. O mais velho pela lembrança de seus jogos de infância e adolescência, os garotos pela presença dos populares jogos de tiro da atualidade, as meninas pelo universo todo colorido de Sugar Rush. A interação entre estes três estilos pouco a pouco monta um painel sobre a história do fliperama, bem como os truques típicos dos fabricantes ao desenvolver tais jogos – o passado trágico da sargento Calhoun é outra sacada genial!

    Com um roteiro bem amarrado, explorando o linguajar infantil – mas não infantilóide -, e uma animação de qualidade, Detona Ralph é uma pedida divertidíssima a todos aqueles que curtem ou já curtiram jogos eletrônicos. Destaque também para o trio nacional de dubladores, formado por Tiago Abravanel, Rafael Cortez e MariMoon, que brilham na caracterização de Ralph, Felix e Vanellope, respectivamente. Em todos os casos pode-se ver a adaptação do tom de voz à personalidade do personagem, de forma a complementá-lo dentro da história como um todo. Muito bom.

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