Muitos dizem que a premissa de “A outra Terra” não condiz com “Melancolia”. Essencialmente são obras distintas, mas apenas se assemelham no cenário de ficção científica (aproximação de um planeta parecido com a Terra), na dor da tragédia e na incerteza. Cada produção tem uma discussão diferente. Enquanto uma traz a melancolia do apocalipse, a outra traz debates sobre o existencialismo.
Na noite da descoberta de um astro que se assemelha com a Terra, a estudante de astrofísica Rhoda Williams (Brit Marling) provoca um acidente automobilístico e mata a família do compositor John Burroughs (William Mapother). Depois de 4 anos presa e de ver que o novo planeta está mais próximo, Rhoda ganha a liberdade, se inscreve em um concurso para visitar a ‘outra Terra’ e tem o objetivo de compensar John de alguma maneira. Ambos vivem sobre a expectativa da aproximação do tal planeta que mudará suas vidas.
Além da aura sci-fi e das semelhanças superficiais para com o longa de Lars Von Trier, citado acima, a ideia de “O confronto”, de James Wong, parece inspirar o enredo de “A outra Terra”, porém longe da pirotecnia e do exagero da fantasia. A concepção de realidades paralelas e a existência de um ‘eu semelhante que promove ações diferentes’ - que remete a teoria do espelho quebrado, que é dita no filme - ligadas por dimensões temporais dão o tom científico aqui.
O drama só tem valor devido aos interessantes elementos da ficção científica na trama, que estão em segundo plano. O desenrolar do ‘pós-tragédia’ é comovente, mas soa convencional em sua essência. Além disso, o longa pode cansar o espectador pelo didatismo (toda a complexidade teórica é bastante esmiuçada), pelo ritmo lento e por ter uma narrativa de traços existencialistas carregados de depressão e compaixão.
O panorama fictício - apresentado de forma branda, mas sempre instigante ao expor suas atraentes discussões - é o que mais chama a atenção. As reflexões surgem, em um primeiro ato, pelas informações e explicações científicas expostas ora por uma narração em off ora pela imprensa, seja por uma TV ou rádio ligados. À medida que a ficção se entranha no drama, o moral do enredo se evidencia em seu segundo ato, o que pode causar estranheza ou emoção diante da complexidade do clímax.
Ainda que o diretor e roteirista Mike Cahill erre a mão em alguns detalhes (na direção pesada em alguns momentos, em alguns furos de roteiro e na condução da câmera em alguns planos e zoons exagerados) e acerta em outros (trabalha bem a fotografia azulada e a trilha sonora na composição da atmosfera do longa), “A outra Terra” funciona como drama, mas talvez fosse ainda melhor como ficção científica. Destaque para Brit Marling, que está em boa performance.