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    The Motel Life
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    3,1
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    anônimo
    Um visitante
    4,0
    Enviada em 21 de março de 2016
    Em insones zaps de Netflix me deparei com "The Motel Life" . Um drama indie de descoberta transitória, sonhos juvenis nati-mortos e remorso, espelhando o tormento e a angústia de Dostoiévski em "Crime e Castigo". Produzido em 2012 e dirigido pelos irmãos Polsky, os mesmos do satisfatório "Vicio Frenético" com o caricato Nicolas Cage. Não Tinha dado atenção ao filme na época do lançamento atrasado (não chegou ao circuito comercial sotero e passou voando em salas de arte) . Então a fim de velar o meu dia (não muito produtivo). Resolvi fazer um café com creme de leite e dar uma chance a Stephen Dorff, que já há algum tempo me decepciona, apesar d'eu simpatizar com sua pegada "James Dean". O filme conta a história dos irmãos Flannigan e suas agonias deletérias que vão do remorso por um crime cometido à busca do sentido de suas vidas transgressoras, apesar de portadores de incríveis talentos para arte. Tais aptidões somadas a um amor fraterno imensurável dão o tom do filme, que entre flashbacks, animações enigmáticas e abuso do plano americano na primeira metade me deixou estúpidamente satisfeito. Dakota Fanning cresceu e continuou competente e fiel ao que se propõe, sem maximizar nem minimizar muito. Enquanto que Emile Hirsh, tomando pra se a responsabilidade, me apresentou outra excelente performance. Adoro ele desde "Meninos de Deus" de 2002. Ator muito dedicado e com um cartel de filmes fabulosos. Dentre eles o espetacular "Na natureza Selvagem". E Dorff finalmente se redimiu. Impagável como o irmão mais velho e perneta, que dedicou a vida à mostrar na prática ao irmão o que não se deve fazer com ela. O filme é minimalista sem ser pequeno e por vezes experimentei sensações iguais as que me tocam no cinema humanístico do Oriente Médio.
    Chorei junto com Emile quando ao chegar na loja pra comprar o carro da fuga recebeu de Kris Kristofferson (o cantor) palavras invasoras, que roubei pra mim:

    - Bem, não faça nada estúpido
    - Estou tentando não fazer
    - Você não é um perdedor, garoto
    mas se continuar agindo como se fosse, não sei o que será
    quero dizer que, não tome decisões pensando que é um Zé Ninguém
    tome decisões achando que é um grande homem
    pelo menos, um bom homem
    e não seja medroso
    Tem namorada?
    - Costumava ter
    - É isso aí, está vendo?
    alguns sutiãs acham você legal
    cuide-se

    Esta cena deveria ter sido executada sem cortes, à maneira Orson Welles, num close em Emile, pois apesar de Kris está muito a vontade, o que importa observar são os segundos de redenção de Frank (personagem de Emile), enquanto seus olhos vão alagando como se entrega-se toda sua vida nas mão do amigo.
    E este tipo de diálogo se repetirá varias vezes no filme, desenhando um roteiro bem elaborado em cima de um argumento recorrente, porém diamanticamente belo.
    Da fotografia, convém dizer que as paisagens gélidas de Nevada representadas numa matiz quase monocromática ambientaram perfeitamente a agonia dos irmãos. Ao tempo que a trilha composta por country music lento e rock melancólico instrumental ,executada num volume bem abaixo dos diálogos se faz presente sem tornar-se personagem.
    A maquiagem também teve um papel importante, pois caracterizou dolorosamente o inverno na face de Jerry Lee (personagem de Dorff) enquanto definhava.
    Num filme destes é impossível não ceder a clichê e a psicologia dos sentimentos, porém tais artifícios foram utilizados com cautela e foram bem sucedidos. Observe a entrega resignada de Fanning ao remorso sem perdão e as tomadas de estradas intermináveis e luzes de teto de corredor de hospital que nos remetem instantaneamente ao desespero e saberão o que digo.
    Falando um pouco do romance maculado de Frank e Annie (personagem de Fanning). Muito bem apresentado no roteiro, com diálogos curtos, pausas e muitas, muitas palavras ditas no olhar. Adoro quando personagens falam com os olhos e Dakota tem esse viés na forma de interpretar me levando às vezes ao colo de Bette Davis, Glória Swanson e das Gretas: Garbo e Gerwig
    Daí o filme segue numa troca interminável de culpa entre os personagens e consolidando seus laços fraternos e de desejo indulgente. Com sequencias belíssimas narradas pelas histórias que Frank conta e Jerry Ilustra e que são como um remédio para a aflição de ambos.
    A maturidade antecipada dos rapazes é exposta a medida que Jerry Lee confronta Frank sobre seu destino, sua introspecção misteriosa e seu rancor covarde. Ao mesmo tempo que um Frank ébrio se rende as investidas invasoras do irmão, se despedaça e faz sua despedida entre soluços, tragos de whisky e nas palavras sofridas de Jerry:

    - Somos uns fodidos Frank, vamos está com pessoas fodidas.

    Assim acaba o dilema do filme. Da descoberta da vida adulta até o contraste final das histórias reais e imaginárias de Frank, e com um "Pai Nosso" silencioso ele busca Annie, livre do rancor e no aguardo encontra o olhar indulgente que transpõe vidraças.
    Confesso que fiquei apreensivo, mas extremamente satisfeito no final.
    Ótimo filme. Sad but True. Vale a pena ser visto sempre que o coração resolver falhar com o próximo, pois não existe um antagonista personificado no filme. Quem tortura é simplesmente a vida.

    Não sei se ando a flor da pele ou realmente tenho dado sorte nas minhas últimas apreciações cinematográficas.
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